Uma família adopta uma criança-robot, David, com o fim deste substituir o seu filho doente. Uma vez programado, o único objectivo de David é amar os seus pais, principalmente a mãe, e de ser amado por estes. Acontece que o filho do casal recupera da sua doença e volta para casa, provocando ciúmes em David e tendo ciúmes deste. As coisas não correm bem e a mãe abandona David na floresta.

Já todos devem saber que este projecto pertencia a Stanley Kubrick e que Spielberg o herdou quando aquele faleceu. Assim, o que temos aqui é a mistura do universo de dois cineastas muito diferentes. O resultado é ao mesmo tempo brilhante e decepcionante.

A estrutura e ambiência dos contos de fadas dá ao filme uma aureola mágica, que contrasta com a realidade violenta e tecnológica da época em que decorre a acção. Spielberg prova uma vez mais ser um realizador genial, dando-nos sequências inesquecíveis (a lua cheia, os robots à procura de peças sobresselentes) e tecnicamente perfeitas. Na realidade, em termos técnicos o filme é perfeito. Desde a excelência dos efeitos especiais, aos imaginativos cenários, não esquecendo a notável e atmosférica fotografia, o filme é visualmente brilhante.

Também no elenco não há falhas. Haley Joel Osment é perfeito como David; este pequeno é sem dúvida uma das maiores revelações das últimas décadas e se o seu talento crescer com ele, poderá tornar-se o melhor actor deste século. A seu lado, Jude Law é extraordinário como o gigolo-robot Joe e Frances O’Connor é notável como a mãe. Pessoalmente acho que os três deveriam ser nomeados para os óscares.

Mas não há bela sem senão e, neste caso, o senão são os últimos quinze minutos de filme. Spielberg deveria ter terminado a história no fundo do mar, mas cedeu à lamechice (bem feita, mas desnecessária), desequilibrando assim aquele que é já um dos melhores filmes de ficção científica dos últimos anos.

Miss Diva