Faz agora um ano desde que o meu agora-falecido Pai acordou-me com uma chamada e disse algo como, "O World Trade Center acabou de cair."
Na altura pensei que ele estava com delírios mas de qualquer forma acordei a minha outra metade e liguei a televisão. Como vocês, passei o resto do dia colado ao ecran. Tinha o meu computador portátil na cama comigo, usando e-mail e o telefone Internet para comunicar com dirigentes gays e testemunhas em Nova Iorque.
Escrevi uma longa reportagem sobre a reacção dos gays e a perspectiva gay da questão. Fui o primeiro jornalista a indicar que o Padre Mychal Judge era homossexual e alguns dos meus editores submeteram-me a uma dose incomum de verificação de factos durante essa semana. Obviamente, isto tudo foi agora relatado pela Associated Press, o New York Times, e todos os outros.
Esta semana voltei a falar com os entrevistados de Nova Iorque e Washington das minhas reportagens originais e, se bem que com alguma dificuldade, convenci-os a partilharem os seu pensamentos e sentimentos passado um ano.
Nota de tradução: neste texto utilizou-se a expressão 9/11 para indicar o 11 de Setembro pois é a forma mais comum de indicar datas para os Norte Americanos. Da mesma forma manteve-se a expressão "América" e "Americanos" quando se poderia ter utilizado "Estados Unidos da América" e "Norte Americanos" pois todo o texto original foi escrito por Norte Americanos.
"Como um homem homossexual em Nova Iorque," continua Ralph, "o que senti no último ano foi uma diminuição nas diferenças relativas entre homossexuais e heterossexuais quando lutavamos contra as diferenças que os ataques focaram entre o Ocidente e o não-Ocidente. As bandeiras Americanas que decoravam literalmente todos os bares gays na cidade pareciam marcar este evento como um em que os homosseuxais estavam literalmente e abertamente inseridos e de uma forma que nunca tinha acontecido antes. Devido ao 'movimento gay', qualquer que seja a forma como o definimos desde os últimos 25 anos e qualquer que seja a nossa desilusão com o mesmo hoje em dia, havia trabalhadores abertamente homossexuais no Trade Center, com amigos e parceiros no exterior, e o seu desaparecimento nessa manhã pôs-nos a todos directamente dentro da caixinha."
O meu amigo Clint, eu e as pessoas com quem ele trabalha estiveram em luta contra um virus incomum nas últimas semanas com sintomas raros. Antes do meu médico garantir-me que era uma "coisa" que andava por aí e que toda a família dele a tinha apanhado, Clint e eu pensamos em voz alta, "Talvez os terroristas tenham posto algo na água de San Diego." O facto de estarmos 10% sérios ao afirmar isto é uma das consequências desta realidade pós 9/11.
Tive que fazer viagens intercontinentais três vezes desde 9/11 e acho que as pessoas são um bocadinho mais simpáticas com os Americanos. Este efeito não vai durar muito tempo, mas foi interessante ser odiado um bocadinho menos que o habitual devido ao defeito de ter nascido num certo país. Muitas pessoas no resto do mundo têm uma relção de amor/ódio, fascínio/repúdio com a América que, após o 9/11, parece ter balançado um bocadinhozito para o lado do amor por uns tempos.
Eu sou uma daquelas pessoas que espera que caiam mais coisas da prateleira. A água pode estar envenenada, as pontes podem ruir, pode ser libertada radiação, e existe mais uma dezena de cenários assustadores.
Pelo menos, um ano depois, acho que detectei alguma complacência entre o público em geral e nos funcionários públicos. Eu voto nos Democratas excepto quando voto à esquerda dos Democratas -- para o Partido Os Verdes, o Partido Paz e Liberdade, etc. Não sou um conservador. Mas sinto que o governo não consegui evitar a entrada de terroristas e a sua livre movimentação nos Estados Unidos.
Se queremos evitar mais 9/11s, o Big Brother tem de mostrar mais interesse em quem está por aqui, de onde vieram, o que fizeram no passado, e o que pretendem fazer. É lixado. E é necessário.
Rex Wockner.
tradução PortugalGay.PT