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Quarta-feira, 2 Julho 2014 10:13

PRIDE
Sylvia Rivera, um nome a não esquecer



É certo e sabido que quem despoletou os Stonewall Riots não foram os elementos da comunidade LG mais sucedidos: professores, líderes de partidos políticos, deputados, escriturários, patrões, funcionários bancários, jornalistas, etc, etc, etc.


Foram elementos LGBT (maioritariamente T), discriminados, desempregados, de rendimentos no limiar da pobreza ou mesmo pobres, muitas vezes tendo a prostituição como única forma de subsistência, expulsos de casa, forçados a saírem da escola, etc, etc, etc.

Também é certo e sabido que mulheres trans como Sylvia Rivera foram peças chave nos Stonewall Riots, celebrados internacionalmente nos diversos prides. O que não é suficientemente contado, e quando o é é com pouco ênfase, é o grau em que as pessoas trans continuam a ser marginalizadas dentro da luta pelos direitos LGBT, tratadas como fichas descartáveis quando conveniente e negadas aos mais básicos direitos, respeito e recursos necessários para uma igualdade e cidadania plenas.

Um do mais comuns e antigos choques entre as pessoas trans e apoiantes e aqueles que lideram os movimentos LG aconteceu, por exemplo, quando os líderes LG se mostraram dispostos a sacrificarem a protecção trans quando da entrada da orientação sexual no artº 13º da Constituição Portuguesa (a proposta inicial era orientação sexual e identidade de género) naquela que é considerada como uma inaceitável traição aos direitos trans a favor de causas LG.

Hoje, 2 de Julho, é o aniversário da activista trans Sylvia Rivera e muitas pessoas LGBT honram a memória desta heróica mulher trans, à qual é creditada pela história como sendo a pessoa que “atirou o primeiro salto alto” no bar Stonewall Inn nessa fatídica noite de 1969, quando a comunidade LGBT decidiu revidar a brutalidade policial.

Rivera e muitas outras pessoas trans e não conformes de género, sendo que muitas eram negras (não concordo com a expressão “pessoas de cor”, muito usada presentemente para se referir a este grupo de pessoas, pois considero que TODA A GENTE tem cor) no bar nessa noite eram consideradas (pelas autoridades) como “culpadas” de vestirem roupas do “género inapropriado”, desculpa usada pela polícia para exercerem o preconceito violentamente.

A polícia foi surpreendida quando os utentes do referido bar decidiram resistir. Este levantamento (e pese a existência de outros anteriores também protagonizados pela comunidade trans) catapultou o moderno movimento LGBT, e Rivera e outras trans presentes foram as responsáveis pelo seu despoletar.

Rivera continuou a lutar por uma igualdade LGBT, particularmente pelos mais desfavorecidos, como os sem abrigo. Tristemente, depois de a terem usado como cara publicitária para angariarem dinheiro, foi abandonada pela comunidade gay, tendo efectivamente falecido na miséria. Segundo os LG da altura, os “temas trans são demasiado extremistas”.

A comunidade lésbica mais radicalmente feminista da altura sistematicamente a excluíu de conferencias femininas, tendo mesmo uma vez sido expulsa de uma conferência de mulheres queer por algumas lésbicas transfóbicas. Foi banida do New York Gay Center por pública e agressivamente exigir um melhor tratamento para os jovens queer sem abrigo.

Quando Rivera usou a sua voz para denunciar a opressão das pessoas trans, pobres e/ou negras pela comunidade LG, foi incluída nas listas negras de muitas organizações media dominada pelos LG e círculos sociais.

Sobre os acontecimentos de Stonewall, um novo documentário denominado Stonewall Uprising andou nos circuitos cinematográficos dos festivais de cinema LGBT. Chocantemente, mas não surpreendentemente, os seus realizadores “branquearam” (literalmente) o que realmente aconteceu ao entrevistarem maioritariamente “brancos” e pondo nos posters promocionais unicamente homens “brancos”. E ainda se torna mais adulterado ao “apagar” o papel que que a comunidade negra LGBT teve no despoletar dos acontecimentos, e mesmo a desvalorizar o papel significativo que a comunidade trans teve no despoletar da chama que Stonewall iniciou.

Antes de Harvey Milk houve Sylvia Rivera. Apesar disso, os media LGB”T” muitas vezes marginalizam o seu importante papel na história.

Neste dia em que se honra Sylvia Rivera, apela-se a que tod@s os LG se lembrem de quem iniciou os Stonewall riots a que tentem ser mais compreensivos, sensíveis e inclusivos com os seus irmãos e irmãs trans.

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