De acordo com vários estudos internacionais, o mais antigo de 1957 e o mais recente de 2000, em que se baseou a equipa do Centro de Saúde Pública da Universidade John Moores, em Liverpool, a média daquilo a que chamam discrepância paternal - quando um pai cria um filho que acaba por saber que não é dele - varia entre os 0,8 e os 30 por cento.
A média de discrepância paternal a que chegaram é de 3,7 por cento. A equipa adverte para as consequências deste fenómeno na saúde pública.
"Entre as consequências mais importantes está a quebra dos laços familiares, aumento dos problemas de saúde mental, problemas de baixa auto-estima nas crianças e ansiedade e envolvimento em comportamentos anti-sociais e agressividade", escreve a equipa.
Os grupos de maior risco são casais de pais muito novos, que têm relações durante muito tempo mas sem nunca assumirem uma vida em conjunto ou que vivem com muitos problemas financeiros.
Um dos estudos em que a equipa se baseou é referente a Portugal e foi coordenado por Helena Geada, investigadora da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. A avaliação, que data de 2000 e que é o mais recente apontamento usado pela equipa, aponta uma taxa de discrepância paternal de 29,8, com uma amostra de 790 casos estudados após o nascimento.
Francisco Corte-Real, vice-presidente do Instituto Medicina Legal (IML), entidade estatal que efectua testes de paternidade em Portugal, frisa que as conclusões do estudo britânico podem ser um pouco precipitadas.
Dúvidas surgem com o primeiro filho
"A procura de pedidos privados de testes de paternidade tem aumentado progressivamente, mas isso não quer dizer que haja mais dúvidas", diz, lembrando que o IML só desde 1998 atende pedidos privados, que não são ordenados por um tribunal, e que cada vez mais as pessoas estão informadas sobre estas possibilidades.
O estudo diz que são os casais novos que mais dúvidas têm, porque as dúvidas costumam surgir com o primeiro filho, diz Corte-Real.
E sobre o facto de estes pedidos estarem associados a famílias economicamente carenciadas, Francisco Corte-Real não concorda, uma vez que cada teste genético para apuramento da paternidade custa 500 euros e têm de ser feitos pelo menos dois, ao pai e ao filho, e o ideal é fazer a análise também à mãe. O custo é de 1500 euros, normalmente: "Os pedidos correm todos as classes sociais, mas está um montante elevado em causa."
Mas para Francisco Corte-Real, talvez a evolução das técnicas de investigação genéticas tenha contribuído também para o disparar dos pedidos de testes de paternidade.
"Nos últimos 15 anos houve uma evolução muito grande. Com o desenvolvimento do PCR, que permite multiplicar a cadeia de ADN, pode-se identificar um indivíduo só com uma célula de cabelo ou da pele. Hoje um pouco de saliva é suficiente, já não é preciso tirar sangue."