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A Confissão



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A PEÇA - IMPRESSÕES

Penso que uma das missões do teatro português deva ser, também, a divulgação de textos de dramaturgos portugueses, embora saibamos que na prática isso não seja frequente.

A obra de Bernardo Santareno não foge à regra : de 1980 para cá, têm sido poucas as peças deste dramaturgo a subir à cena, havendo ainda algumas por estrear (O Inferno e O Punho).

B. Santareno deixou ao teatro português uma vasta obra carregada de poesia, dramatismo e uma forte observação dos costumes. Os seus textos partem geralmente do povo português, sobretudo no meio rural, donde surge um sopro trágico, épico, lírico, confrontado com situações psicológicas, de modo por vezes rude, por vezes natural. As suas peças afastam-se do substracto realista e descrevem como que uma trajectória circular de onde saem as personagens com uma teoria de conflitos, dúvidas, obsessões e com o combate individual e íntimo entre o bem e o mal - aliás, a verdadeira essência das suas peças.

Desejo levar este texto à cena porque se trata de um espectáculo português que descreve o seu povo e os seus problemas ; embora situado num espaço temporal próprio, não foge aos temas da actualidade social, política, religiosa e sexual. Sobretudo este último, nos últimos tempos tão abordado nos meios de comunicação através de depoimentos, programas, filmes, debates, em jeito de moda mais ou menos duradoura. Acredito que agora que Portugal está aberto a uma nova proposta educacional neste campo, se torna extremamente valioso abordar temas até aqui pouco explorados, como o exemplo representado pela personagem Françoise d'A Confissão.

Ao lê-la, tive a sensação de estar a ler um texto de Genet ou Pasolini, pois a sua beleza, a frontalidade com que o autor aborda os temas sociais chega a ser quase crua; nesta peça em particular, Santareno descreve o confronto da religião com a tão sonhada e recente liberdade conquistada após a Revolução de Abril de '74.

As suas personagens criticam a liberdade à sua maneira, pois todas estão envolvidas, sujeitas ao mesmo espaço limitador do sonho e do desejo, presas às mesmas convenções. Mesmo a marginalidade de cada uma delas serve de confirmação desse espaço totalitário.

Os elementos femininos da peça, como a Mulher- que representa o povo -, Françoise - com espírito marginal e que vive no pecado, mas ao mesmo tempo requintada e sensível -, e D. Filipa - que representa a moral, os bons costumes cristãos e a sociedade -, reflectem um universo fechado de mulheres submissas a um elemento masculino - o Confessor -, reflectindo ângulos distintos da sociedade portuguesa de então. A mulher assume, assim, relevância no teatro de Santareno, no "fulcro da acção maior e a rica realidade dela".*

A Confissão foi a última peça à qual Santareno pôde assistir e foi estreada em 19.01.1980 pela Seiva Trupe, numa encenação de Júlio Cardoso, com cenário de José Rodrigues, figurinos de Rosa Ramos e interpretação de Rui Madeira (Françoise), António Reis (Confessor), Estrela Novais (Mulher) e Josefina Ungaro (D. Filipa).

Salmo Faria

* Deniz Jacinto, Prefácio a O Pecado de João Agonia, Ed. Divulgação, 1962,p.14


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