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Arraial Pride cancelado: Indiferença também é Discriminação!

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Comunicado, ILGA Portugal 6 Junho 2002


Comunicado de Imprensa

COMUNICADO URGENTE

Arraial Pride cancelado:

Indiferença também é Discriminação!

A Direcção da Associação ILGA Portugal vem por este meio comunicar a todo o público - e muito em especial, permitam-nos, à população GLBT (gay,lésbica bissexual e transgender) - a sua decisão de cancelar desde já o já tradicional evento Arraial Pride, anunciado há vários meses para o dia 29 de Junho e que, mais uma vez este ano, teria lugar na Praça do Município, em Lisboa, a partir das 20 horas.

Este cancelamento deve-se em grande medida à indiferença manifestada pela actual direcção da Câmara Municipal de Lisboa - nomeadamente pelo Gabinete do seu Presidente Dr Santana Lopes, aquando dos variadíssimos contactos estabelecidos por nós com o Gabinete da Presidêndia da CML com vista à audiência anual a que nos habituámos- assim como à consequente ausência de apoios por parte da actual Câmara, indispensáveis para a realização deste evento nos moldes exactos em que nos últimos 5 anos teve lugar.

Porque considerarmos grave esta situação - nomeadamente no que diz respeito à inversão de um caminho positivo, integrador e activamente anti-discriminatório que a cidade de Lisboa tinha manifestado perante o mundo GLBT, através da sua Presidência, desde 1997 - e por considerarmos que a indiferença será neste caso um "marcar da diferença" (gostariamos de estar enganados, pois ser indiferente também é discriminar), tem a Direcção da Associação ILGA Portugal ainda a declarar o seguinte:

1-Lamenta esta Associação o silêncio e a indiferença para que foram remetidas as sua váriadíssimas tentativas de comunicação e de pedido de audiência perante o actual Gabinete da Presidência da CML - numa atitude nunca vista por esta casa desde 1997 - mesmo com o envio de documentação detalhada sobre (nomeadamente) a organização do Arraial Pride e a advertência constante de que o adiamento constante de uma resposta por parte da Câmara Municipal poderia ter consequências graves para esse evento (estamos a três semanas do Arraial Pride e impedidos de o organizar condignamente a esta curta distância sem o apoio da CML): foi sempre claro para nós que, existindo um novo Executivo na CML, os termos de participação da CML teriam eventualmente que ser revistos, tendo em conta a situação política e económica actual, e estávamos dispostos e preparados para o fazer; para o que a Direcção da Associação ILGA Portugal não estáva preparada era para a clara falta de resposta condigna por parte dos responsáveis da CML, fosse ela negativa ou afirmativa, sobretudo porque todos os cidadãos e instituições merecem uma resposta atempada por parte das suas autarquias sempre que justificadamente (após 5 anos é certamente o caso!) a solicitem.

2-Lamenta esta Associação o facto de, com esta atitude do actual Executivo, a cidade de Lisboa ter sido (contra a vontade dos seus cidadãos detentores de uma visão moderna do mundo e envergonhando-os) remetida para a lista das cidades onde o apoio por parte das autarquias aos eventos GLBT deste género não existem ou deixaram propositadamente de existir: a cidade de Lisboa viu nos últimos 5 anos com muito bons olhos e pacificamente a existência deste tipo de manifestações, entendendo (estamos em crer) que, com estes eventos, seria possível criar nos cidadãos e cidadãs da cidade e do país (na sociedade em geral, portanto) uma atitude mais democrática e respeitadora perante a diferença e as manifestações/populações minoritárias; este ano é o ano em que, por decisão autárquica - ser indiferente é, sem dúvida, um acto consciente e resulta de uma escolha! - a comunidade GLBT é silenciada numa das formas que encontrou (mas outras haverá e estão prestes a ser anunciadas, numa prova de vigor do movimento GLBT em Portugal!!) para mostrar neste país e sem vergonhas a sua existência e as suas reinvidicações justíssimas e mais do que fundamentadas; mais estranho é este episódio quando, neste ano, a capital do Norte, o Porto, festeja com toda a pujança o Pride (o dia 28 de Junho, dia Internacinal GLBT), com uma semana de actividades e o apoio efectivo e nunca visto por parte da sua autarquia (que, diga-se, tem a mesma côr política e que, eventualmente, remete para um fórum trans-partidário estas questões)

3-Por último, lamenta esta Associação o facto incontestável de, com esta atitude lamentável, a autarquia lisboeta contribuir para um afastamento ainda maior da classe política face às populações, neste caso (em muito, mas não só) face às populações GLBT que são também neste país cidadãos e cidadãs de pleno direito e que como tal devem ser tratados (mesmo que vejam os seus direitos todos os dias a serem alvo de atitudes bem pouco dignas de uma sociedade democrática). Num momento em que a classe política se questiona pela indiferença que a sua actividade suscita no público em geral e que leva cada vez menos gente a participar e a interessar-se pela vida política do país, é grave que dessa mesma classe política a indiferença (e mesmo o ataque, se nos lembrarmos de casos bem recentes) perante os cidadãos ditos "diferentes" seja precisamente a atitude que incompreensivelmente vigora, ainda por cima com consequências graves: nos últimos anos reuniam-se mais de 13 000 pessoas no Arraial Pride da Praça do Município (enchendo-a!), numa concentração onde a vontade saudável de lutar por uma boa causa (a causa do respeito pela igualdade e diversidade social) deveria ser motivo de inspiração para outras situações e encarado como uma mostra de que Portugal (a partir da sua capital) atingiu orgulhosamente um estado de maturidade democrática nos últimos 5 anos face às questões GLBT; infelizmente, este ano, por uma decisão camarária que decide as lutas que merecem carinho (será só o futebol?) e as que merecem a indiferença ou o repúdio (será especialmente o mundo GLBT?) isso não vai ser possível nesses termos (será noutros a anunciar brevemente para o mesmo dia 29 de Junho!!). As responsabilidades políticas desta situação serão certamente retiradas pelos cidadãos portugueses e portuguesas e pelo sempre crescente movimento GLBT. Felizmente para a vida democrática portuguesa, os cidadãos e cidadãs portuguesas já não deixam os seus créditos "por mãos alheias" no que se refere a análises da vida do nosso país e dos factos de natureza discriminatória que nela, triste e vergonhosamente, ainda ocorrem.

O Presidente da Direcção
José Manuel Fernandes

p.s.: o presente comunicado foi enviado aos vários orgãos de comunicação social, assim como à direcção da CML, à Assembleia Municipal de Lisboa, às direcções dos vários Partidos com assento parlamentar, às bancadas parlamentares e respectivos deputados, ao Primeiro Ministro, a Sua Exa o Presidente da Assembleia da República e a Sua Exa o Sr Presidente da República.

 
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