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Dia da Liberdade
 

Domingo, 19 Agosto 2012 09:47

DINAMARCA
Trans é violada e vê pedido de asilo negado



Fernanda Milan, mulher transexual originária da Guatemala, que foi “acomodada” num centro de detenção de homens em Sandholm, onde foi violada várias vezes, à sua chegada à Dinamarca, encontra-se agora em vias de ser repatriada para a Guatemala.


Milan emigrou para a Dinamarca à procura de segurança e de melhores condições de vida, mas o tratamento que recebeu à sua chegada ficou muito longe do que esperava. Foi colocada na ala masculina de um centro para requerentes de asilo, onde foi violada por vários homens.

‘Eu estava verdadeiramente apavorada. Era nova no país. Vinha de um país estrangeiro com uma atitude aterradora, e enfrentei perspectivas assustadoras aqui na Dinamarca, portanto não disse nada,’ afirmou Milan numa entrevista, acrescentado ‘Não fui violada por um só homem mas por muitos.’

Milan, com a blusa a mostrar um ombro, maquilhagem impecável e um cabelo longo e brilhante caindo-lhe pelas costas, foi para a Dinamarca com Paola, grandes olhos castanhos, eyeliner e sombra, voz suave e cautelosa, camisa ligeiramente aberta nos seios. Ambas são homens de acordo com os documentos e com a lei dinamarquesa.

Milan não se recorda quantos meses esteve em Sandholm, suprimiu essa recordação na esperança de esquecer os assaltos, violações e outras humilhações que sofreu enquanto lá esteve.

O tratamento hormonal que tomava desde os 14 anos foi suspenso, e passou mais de um ano antes que conseguisse voltar a tomar este tão necessário tratamento para que mantivesse a sua aparência feminina. Segundo ela, falhar o tratamento hormonal foi uma das piores coisas que lhe aconteceram desde que chegou à Dinamarca. O seu corpo começou a querer mudar de modos que ela não queria.

Para que pudesse obter hormonas femininas era necessário ser vista numa clínica de sexologia num hospital nacional. Quando o conseguiu trataram-na como se não fosse trans.

Em Sandholm tinha o seu próprio quarto, que podia ter partilhado com outra trans que nunca chegou por se recusar a viver entre os homens. “Eu não queria nenhum tratamento especial mas tenho necessidades especiais por ser quem sou.”

Uma noite vários homens irromperam pelo quarto, onde a violaram. Ela abandonou o campo nessa mesma noite. “Não fui ter com a Cruz Vermelha para denunciar isto. Foram eles que me puseram lá. Porque iria confiar em quem me pôs nessa situação e que nem se iriam dar ao trabalho de ouvir?”

A Cruz Vermelha Dinamarquesa, que dirige o centro não comentou o caso, mas a directora do campo, Anne La Coeur, afirmou que não existe nenhuma colocação particular no que se refere a pessoas trans, mas têm directrizes específicas a aplicar quando se trate de minorias sexuais.

“Basicamente uma mulher trans será colocada num dormitório masculino mas num quarto separado. Mas nunca a colocaríamos num dormitório feminino porque é exclusivamente para mulheres e onde não nos podemos permitir colocar um homem.” afirmou Anne La Coeur.

Depois de deixar o centro, Milan acabou a trabalhar num bordel em Jutland por não ter mais nada a que recorrer. Foi quando a polícia fez uma rusga ao bordel que entrou em contacto com uma rede anti-tráfico humano, a Reden International (www.redeninternational.dk/ .).

Milan vive num centro para mulheres dirigido pela Reden International desde Fevereiro de 2011, mas recentemente soube da decisão do seu pedido de asilo - vai ser deportada de volta para a Guatemala a 17 de setembro. Paola ainda espera pela decisão do seu pedido.

Alertada para a possibilidade do seu pedido de asilo poder ser reaberto, foi posteriormente humilhada na esquadra responsável pela sua reabertura, onde foi informada de que a violação foi uma consequência da sua escolha.

“Ser uma mulher trans não é uma escolha. Sentimos que nascemos assim. Não é culpa minha, mas foi como se me culpassem de ser quem sou.”

Foi lançada uma campanha para salvar Fernanda Milan da deportação. Os activistas da campanha pedem a quem apoie para contactarem as autoridades e embaixadas dinamarquesas sobre o caso. (www.facebook.com/SaveFernandaMilan .)

A Guatemala é um dos países da América Central que conta com uma triste reputação no referente a crimes de ódio contra pessoas trans: num só ano foram 13 pessoas trans assassinadas, de acordo com um relatório emitido pelo PortalSIDA. (www.portalsida.org/news_details.aspx?ID=10425 .)

A violência contra trans é tão má na Guatemala que Milan acredita que ‘não há pessoas trans na Guatemala com mais de 35 anos’. Mas acrescenta que não é a morte que a aterroriza mais. ‘O que me assusta mesmo é ser atacada e torturada.’

“A vida das pessoas trans na Guatemala é terrível. Sofre-se discriminação e não se tem direitos,” afirmou Paola.

Ambas as mulheres, que na Guatemala fizeram activismo pelos direitos trans, afirmam que mulheres trans não têm outra hipótese laboral sem ser a prostituição.

Paola inscreveu-se num curso onde teve de pagar imenso dinheiro para ser aceite. No primeiro dia em que apareceu descobriram que a sua aparência não condizia com a sua documentação e foi expulsa. “Educação é unicamente para homens e mulheres não para pessoas como eu,” disse Paola.

"Na Guatemala se se é diferente é-se afastado da família, da sociedade e do governo. Não se pode obter uma educação nem tratamento médico porque se se chega a um hospital como mulher e a documentação diz o contrário, o tratamento é recusado mesmo que se esteja a esvair em sangue. Preferem que se morra a tratar.” disse Fernanda, que acusa a Igreja Católica de, por ter lá um grande poder, espalhar o medo e o ódio pela sociedade fazendo com que as pessoas recorram a grupos de vigilantes.

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