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Domingo, 15 Novembro 2009 19:44

ARGENTINA
Transexual suporta dois meses de terror, abusos e vergonha



Foi acusada de assassinato, depois mudaram para roubo. Foi presa em pleno Inverno. Sofrendo de tuberculose, foi mantida algemada durante cinco dias num jardim, para evitar problemas com outros presos. Quando foi libertada passou um mês no hospital.


O advogado Alexandre Bois tinha sido contactado para ver uma transexual presa na Brigada de San Justo e encontrou-a num pátio ao ar livre, sozinha, dormindo num colchão velho, coberta com papelão e algemada. Durante cinco dias, Johana Robledo esteve nessa situação. "A situação era abusiva, puseram-na fora da célula, porque tinham problemas com a população prisional e deixaram-na ali", relembra o advogado. Johana tinha gripe, mas o seu quadro piorou nessa fria semana de Agosto em que foi detida e o resultado foi tuberculose. Foi este encontro com a sua cliente que fez com que Bois, além de defendê-la se tornasse uma testemunha de um processo contra o pessoal da Brigade. Johana passou dois meses em diferentes lugares de reclusão, primeiro acusada de assassínio e depois de cúmplice de uma tentativa de roubo, crimes que garante não ter cometido. Quando foi libertada, teve que ser internada num hospital por um mês.

A sua mãe demorou vários dias para saber o porquê de estar incomunicável. A procuradora Cecilia Cejas, da UFI 1, acusava-a de "homicídio durante assalto" por um incidente de há três meses.

Nessa altura Johana Robledo vivia com o seu companheiro, Marcos, de 18 anos, nos fundos da casa da família do jovem em La Matanza. Não tinha um bom relacionamento com a sua sogra, mas esta não os incomodava. Afinal, Johana contribuía com a sua parte do dinheiro para a casa, primeiro fazendo a limpeza de uma casa, vendendo roupas na feira de La Salada depois. No entanto, a 26 de Maio, um crime acabou com a paz em casa.

Gustavo Cáceres, o irmão do companheiro, tinha uma mota nova em que se passeava no bairro, e dois rapazes apareceram e tentaram roubá-la. Gustavo reagiu e recebeu um tiro fatal. Os ladrões não levaram a mota. "A única testemunha foi Johana, porque o namorado dela estava a dormir. Ela sabia que um dos assaltantes era um miúdo do bairro. Quando a polícia chegou, ela levou-os ao lugar onde morava e depois ajudou a identificá-lo, mas a polícia não os deteve", disse a mãe.

Dois meses depois, a mãe de Robledo denunciou-a como cúmplice no roubo. A procuradora levantou a parada e imputou-lhe o homicídio. A teoria é que Johana tinha informado os ladrões e facilitado a sua entrada. O juiz de Garantías, Raul Ricardo Antunes, aceitou a acusação e emitiu a ordem de prisão preventiva.

A polícia foi buscá-la a 7 de Agosto. A mãe de Johana informou que a sua filha estava doente, tinha muita febre e tomava Tamiflu, porque suspeitava que tinha sido infectada com a gripe A. Quando chegou à Brigada de San Justo, foi colocada com os presos comuns. "Atiravam-me água, assediavam-me o tempo todo, a verdade é que a situação era perigosa. Pedi-lhes para que me levassem para outro sítio, estava com medo que me matassem. Então fui colocada no quintal. No início, deram-me apenas água, nunca algo quente, nem sequer chá", disse Johana. A sua saúde piorou. "Apanhou tuberculose" afirmou a mãe.

A próxima paragem foi na delegacia em Dom Bosco, onde ficou numa cela separada com outra travesti. Este estabelecimento foi projectado para pessoas que cometeram delitos sexuais e não podem ser misturados com os presos comuns, e também para pessoas que, como Johana, por razões diversas, arriscam a sua integridade física numa cela comum. Passou aí mais um mês, doente, enquanto o tribunal decidia alterar a acusação para "roubo agravado pelo uso de uma arma" (como participante), sem lhe retirar a prisão preventiva.

Então foi para a Unidad 24 de Florencio Varela, onde passou mais um mês, até o juez de Garantías proferir um despacho de 30 de Setembro, em que ordenava a sua libertação extraordinária. "A situação de saúde do réu é muito séria e piorou ainda mais", reza o texto de Ricardo Alí, que considera que deve prevalecer "a salvaguarda da integridade física, a fim de se evitar um mal maior".

Johana mudou imediatamente da prisão para o Hospital del Pueblo. Sabia que era portadora do vírus HIV e as suas defesas estavam em baixo. Passou um mês no hospital até que pudesse continuar o tratamento na casa de sua mãe (o namorado dela não apareceu mais). Diana Sacayán, que a conhece há dez anos, disse que a sua amiga perdeu 10 quilos na prisão. "Ninguém nos serviços prisionais foi capaz de a ajudar. Abandonaram-na de tal forma que foi como uma tortura ", disse.

Sacayán pertence ao Movimiento de Antidiscriminación y Liberación (MAL), onde Johana normalmente se envolvia em diversas atividades destinadas a tentar ganhar espaços que historicamente são negados às transexuais como a educação, saúde, habitação e trabalho. "Quando soubemos o que estava acontecendo, apresentámos uma queixa junto da Secretaría de Derechos Humanos de Buenos Aires, em La Plata".

Agora, Alejandro Bois, o seu advogado pretende interpôr uma ação contra o pessoal da Brigada de San Justo, que terá o seu testemunho.

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