Pesquisa:
 

Domingo, 28 Setembro 2003 00:59

PORTUGAL
"Marcha Branca" Quebrou o Silêncio e Exigiu Justiça para as Crianças



Faltavam poucos minutos para as três da tarde quando a linha azul do metro se tingiu de branco. Na estação dos Restauradores, várias dezenas de pessoas de todas as idades, muitas delas com crianças pela mão, destacam-se pelas cores claras do seu vestuário. Dirigem-se para a saída, rumo à Praça do Rossio, mesmo a tempo de integrarem a "marcha branca" que acabava de arrancar. Sob um céu cinzento e muita humidade no ar, centenas e centenas de pessoas, muitas com balões nas mãos, outras de braço dado, marcam presença neste desfile, convocado pela associação Inocência em Perigo e pela Fundação Filos, e também apoiada por algumas dezenas de outras organizações e personalidades. À entrada na Avenida da Liberdade, a manifestação já cresceu visivelmente, engrossada pelos muitos cidadãos que a esperavam nos passeios. [...] Cláudia Neves, vinda expressamente da Suíça para representar a estrutura internacional da organização Inocência em Perigo, multiplica os apelos à organização dos participantes através do megafone. Reclama a criação de um cordão humano à cabeça da manifestação. Pede espaço para as crianças e casais que vieram com os seus filhos. Apesar de alguma desorganização, a manifestação prossegue sem problemas pela avenida acima, enchendo por completo, a toda a largura, a faixa central. Um miúdo pedala vigorosamente no seu pequeno triciclo, mantendo-se a uma curta distância da cabeça da manifestação. O silêncio, proposto pelos organizadores, nem sempre é respeitado. "Justiça! Justiça" é a palavra de ordem mais ouvida ao longo do percurso. O nome do juiz Rui Teixeira ganha força na boca de largas franjas de manifestantes, que acompanham a palavra de ordem com palmas. Os organizadores ainda tentam reprimir o "slogan", lembrando que "esta é uma manifestação silenciosa", mas em vão. Cerca de hora e meia depois de terem partido do Rossio, os manifestantes começam a chegar ao cimo do Parque. Manuela Eanes (Instituto de Apoio à Criança), Pedro Strecht (pedopsiquiatra), Daniel Sampaio (psiquiatra), Catalina Pestana (a provedora da Casa Pia é mais aplaudida) e outras personalidades sobem ao palco, rodeado por manifestantes que se espalham pelos relvados em volta. "Lemos, vimos e ouvimos, mas não podemos ignorar os atentados contra as crianças portuguesas", afirma o primeiro orador, Manuel Sarmento (Inocência em Perigo). Explica o simbolismo da marcha: "No silêncio estão contidas todas as palavras não ditas, ele fala mais alto do que todos os gritos. E o branco tem mais cor do que todas as cores juntas". Também Catalina Pestana evocaria, na sua curta intervenção, o propósito de desfilar em silêncio: "Combinámos marchar em silêncio ["Nós já nos calámos muito", retorquiu uma voz anónima, secundada pela multidão, que interrompeu por momentos a intervenção da provedora] e não aguentámos! Porque o silêncio pesa, corrói, destrói e aniquila. Agora, pensemos no que é ter 13, 14 ou 15 anos e ter de guardar em silêncio o medo e a vergonha". Antes de agradecer a presença de todos, Catalina Pestana afirmou, visivelmente emocionada, que "cada criança e adolescente deste país necessita de contar com cada um de nós e de saber que, se precisarmos de sair de novo à rua, cada um trará um amigo também". [Embora não assinalada na notícia do Público, as associações ILGA Portugal, Grupo Oeste Gay, Não Te Prives e o portal PortugalGay.PT também fizeram uma breve declaração conjunta no palco tendo sido efusivamente aplaudidos].


As reivindicações

- Prazo de prescrição do procedimento criminal em casos de crianças vítimas de abuso sexual só deve iniciar-se após a maioridade

- O abuso sexual de crianças muito pequenas, até 12 anos, deve ser sempre considerado crime público

- Agravamento da pena em caso de abuso sexual de crianças quando este é perpetrado de forma prolongada

- Criminalização da venda de crianças seja qual for o fim

- Agravamento da pena em caso de lenocínio e tráfico de menores

- Maior cuidado no tratamento, por parte da Comunicação Social, de casos de abuso sexual de menores

- Maior vigilância e actuação por parte da Alta Autoridade da Comunicação Social sobre órgãos de informação que violem e/ou desrespeitem a dignidade deste grupo social (a infância) nos seus trabalhos, especialmente em casos delicados como o abuso sexual de crianças

- Criação de dispositivos institucionais que favoreçam a investigação para conhecer, caracterizar, padronizar e avaliar a real dimensão dos casos de abuso sexual de crianças em Portugal

Pode também ter interesse em:

 
On-Line
Arquivo Notícias (2003)
© 1996-2024 PortugalGay®.pt - Todos os direitos reservados
A Sua Opinião
Tem alguma sugestão ou comentário a esta página?


Nota: reservamos-nos o direito de selecionar e/ou ajustar as perguntas publicadas.

Não é um robot

Por favor marque as caixas CINCO e SETE.
Depois clique em OK.

© 1996-2024 PortugalGay®.pt - Todos os direitos reservados
Portugal Gay | Portugal LGBT Pride | Portugal LGBT Guide | Mr Gay Portugal