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Terça-feira, 28 Janeiro 2014 23:54

PORTUGAL
Rita Ribeiro recorda Gisberta em teatro no Porto



Rita Ribeiro é a actriz que representa a mãe de Gisberta Salce Júnior, que morreu de forma brutal na cidade do Porto em Fevereiro de 2006. A peça estreia dentro de dias na cidade.


Gisberta Salce Junior foi brutalmente assassinada no mês de Fevereiro de 2006 no Porto por um grupo de jovens todos menores de 16 anos com a exceção de um deles. Gisberta era uma mulher transexual, uma sem-abrigo que vivia escondida do tempo e das pessoas num prédio abandonado junto do Campo 24 de Agosto, carregava consigo a solidão e a doença, várias, sobrevivia pela troca de favores sexuais.

Dia 24 de Fevereiro de 2006 a notícia: Gisberta foi encontrada morta num fosso de água imunda, morrera afogada após três dias de tortura.

Eduardo Gaspar colocou no papel o olhar de uma mãe que perde desta forma bárbara a sua filha, num país que não é o seu, mas que a acolheu e que mais tarde lhe ceifou a vida. A mãe de Gisberta no teatro é Rita Ribeiro, que durante perto de uma hora rasga esse sofrimento, esse sentido de perda.

O PortugalGay.pt falou com a atriz numa conversa informal durante um almoço no Clube 3C na rua Cândido Reis, no Porto.

O original de 15 minutos

Foi um longo namoro até Rita Ribeiro ter o papel como seu, numa constante procura de coisas novas e de se superar a si mesma em cada representação, Rita conta-nos que tudo começou durante um jantar em casa de um amigo comum com o autor. Durante o jantar Rita exterioriza a sua vontade de algo novo, informação que ficou no subconsciente dos dois amigos.

Passados alguns dias o Teatro Rápido apresenta o tema para mais uma temporada e Eduardo Gaspar sente o desafio e escreve numa noite um monólogo para 15 minutos, a personagem, a mãe de Gisberta. Depois de submetido o texto é aprovado e Eduardo pergunta ao amigo quem seria a pessoa para aquele papel, a resposta foi Rita Ribeiro.

Rita Ribeiro leu o texto, gostou mas a resposta inicial foi um nim: "Não queria fechar a porta, deixei entreaberta", conta.

Eduardo avançou com os ensaios mas a atriz inicial não se ajustou com o trabalho do autor nem o autor com o trabalho da atriz, e como a porta estava entreaberta tentou novamente Rita Ribeiro.

"Estava eu no supermercado e o Eduardo liga-me a perguntar se ainda estava disponível e eu respondi-lhe que daí a uma hora nos encontrávamos", e da conversa veio a confirmação para a curta peça.

Para Rita Ribeiro a situação de estar 15 minutos em palco com uma personagem já lhe era relativamente familiar: as atuações no teatro de revista onde um ator/atriz tem mais que uma personagem com várias atuações de 5, 10 ou 15 minutos ou mais. No caso da Gisberta foi algo similar com uma representação de 15 minutos de uma só personagem.

A extensão

Para a atriz era inconcebível sair da sala nos intervalos, então ficava lá a jogar conversa fora com o autor, um contacto que os tornou amigos mais próximos, e que aumentou a sintonia entre os dois, o Eduardo pensava e em palco mesmo antes de passar a informação à Rita ela executava.

Os dois a determinada altura descobriram que estavam a fazer mais que uma peça de teatro, aquilo que Rita Ribeiro representava em palco era maior, sentiram-no na reação do público, os choros, as saídas repentinas, os abraços entre mães e filhos, os espetadores que estavam lá atuação após atuação.

E começaram a pensar em algo mais. Após sessões esgotadas, sessões extra e um último dia esgotadíssimo, a ideia de sair para uma peça de uma hora ficou algum tempo em banho-maria.

Rita Ribeiro refere que Eduardo Gaspar fez um trabalho notável conseguindo entrosar os 15 minutos existentes na restante história, que agora esmiúça muito mais a vida de Gisberta, passando pela juventude dela dando-lhe maior sentido.

A tournée começou pela Madeira onde Rita Ribeiro se sentiu um pouco boicotada pela imprensa porque "ainda se tenta tapar o sol com a peneira" tentando esconder as coisas como se elas deixassem de existir. Da Madeira até ao Porto passaram por outras localidades mas o Porto fazia parte do plano, afinal foi aqui que tudo se passou.

A vida da actriz

Diz Rita Ribeiro que desde que tomou o papel como seu, coisas extraordinárias tem acontecido, coincidências ou não, porque segundo ela "nada acontece por acaso".

"Fiquei a saber por exemplo que a Gisberta dançou numa peça onde eu trabalhei no ABC, outra vez um jovem contou-me que numa viagem de camioneta uma jovem muito bonita se sentou ao seu lado e o cumprimentou, e que nunca mais esqueceu o carinho com que ela, a Gisberta, falava com a mãe ao telefone,"

Estas coincidências não se ficam por aqui Rita Ribeiro continua a desfiar outros encontros: "Estava eu no dia 12 de Dezembro do passado ano no Hotel Nave aqui no Porto a dar uma entrevista e, a determinada altura, o jornalista perguntou se eu sabia onde estava e convidou-me a olhar pela janela do meu quarto. Então vi o prédio onde Gisberta havia sido assassinada, coisa que desconhecia."

O Porto

Perante a pergunta do que esperava do público da cidade a atriz diz que sempre foi bem recebida, mas diz também que é um público que é espontâneo e tanto pode gostar como não, mas demonstra-o sempre. Resumindo Rita Ribeiro espera do público do Porto o calor a que foi por ele habituada, honrar a memória da Gisberta e alertar as mães de outras Gisbertas para o amor incondicional pelos seus filhos.

A peça GISBERTA vai estar no Teatro Rivoli de 30 de Janeiro a 16 de Fevereiro.

PORTUGAL: Rita Ribeiro recorda Gisberta em teatro no Porto

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