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Quinta-feira, 25 Outubro 2007 11:07

CINEMA
Um sorriso que faz a ponte



Um homossexual que trabalha como travesti e um jovem portador de trissomia 21 protagonizam «A outra margem». Um filme de Luís Filipe Rocha que hoje estreia em Portugal. Em entrevista ao JANEIRO, o cineasta fala-nos desta longa-metragem, do seu conteúdo e das suas personagens.


Isabel Damião

«A outra margem» é um filme que surpreende, não só pelos temas que aborda – a homossexualidade e a trissomia 21 – como, e acima de tudo, pela interpretação dos actores que o integram. Particular destaque para Filipe Duarte que interpreta Ricardo [o travesti homossexual] e Tomás de Almeida, o jovem portador de trissomia 21, que dá vida ao simpático e alegre Vasco – actor do grupo Crinabel. Não é por isso de estranhar que ambos tenham recebido, em ex-aequo, o prémio de melhor actor, no Festival de Cinema de Montreal, no Canadá.

Segundo Luís Filipe Rocha, «A outra margem» “é uma lição de vida sobre a superação da morte e a capacidade que devemos ter para fazermos o luto de quem parte e continuar em frente. Sempre com a alegria de viver”. Aliás, Luís Filipe Rocha, faz questão de afirmar que “era importante fugir aos clichés e tirar dos actores momentos de verdade emocional, criativa e humana”.

Para construir a sua personagem, Filipe Duarte contou com a preciosa colaboração de um travesti profissional, Fernando Santos. Um trabalho que Luís Filipe Rocha acompanhou de perto “para me aperceber de todos os pormenores que iriam resultar no produto final”.

Esta colaboração obteve o efeito desejado e Filipe Duarte conseguiu dar corpo e alma a um homossexual, Ricardo, que como travesti aparece na figura de Vanessa Blue. Ricardo perde o companheiro, Domingos, que se suicida sem deixar qualquer mensagem ou explicação, um facto que o deita por terra e que o conduz a uma tentativa frustrada de suicídio. A irmã que vive no interior – Amarante – é avisada e vai ter com ele a Lisboa, onde o encontra numa cama de hospital. Um incidente que serve para os reaproximar, após um afastamento de 16 anos. É nesta altura que Ricardo conhece Vasco, o sobrinho, e com ele reaprende a viver e consegue de novo dar um sentido à sua vida. De regresso à capital, onde tem a sua casa e o seu trabalho como travesti, Ricardo leva Vasco, cujo sonho de ser actor de teatro ajuda a concretizar, conduzindo-o ao grupo Crinabel, onde acaba a trabalhar.

Uma curiosidade que o realizador gosta de salientar neste filme é o facto de Vasco ser a única personagem que, durante todo o filme, atravessa a ponte sobre o rio Lima, em Amarante. Uma situação “intencional” conforme, esclarece o realizador. Uma vez que as restantes personagens se mantêm sempre “na margem da vida que julgam ser a correcta”.

À margem

A maior parte das filmagens de «A outra margem», a décima longa-metragem de Luís Filipe Rocha, que hoje estreia em Portugal, decorreram em Amarante. O realizador utilizou como cenários vários lugares emblemáticos da cidade como a Ponte e Largo de S. Gonçalo, Rua 31 de Janeiro, Parque Florestal e Praça do Ribeirinho, Largo Conselheiro António Cândido e Rua António Carneiro, S. Lázaro e Avenida Alexandre Herculano. Um filme que o cineasta dedica ao seu amigo já falecido Carlos Borges, cuja história de vida motivou a concretização deste filme.

Carreira

Luís Filipe Rocha já fez dez filmes desde 1976. Estreou-se com o filme «A Fuga», sobre a mais célebre fuga de presos políticos do regime de Salazar, envolvendo Álvaro Cunhal e outros dirigentes do PCP do Forte de Peniche, em 1960.

Dirigiu depois os filmes «Bar-ronhos» (1976), um documentário sobre um bairro de barracas de Lisboa, a que se seguiu «Cerromaior» (1981), baseado na obra homónima de Manuel da Fonseca, e «Sinais de Vida» (1984), um filme sobre a vida e obra de Jorge de Sena. Realizou em 1993 «Amor e Dedinhos de Pé», em Macau, e depois «Sinais de Fogo» (1995), «Adeus, Pai» (1996), «Camarate» (2001) e «A Passagem da Noite» (2003), que foi premiado internacionalmente.

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