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Sexta-feira, 25 Abril 2008 13:00

TELEVISÃO
"Assumi para que um dia não seja preciso falar no assunto"



Solange F., de 32 anos, é apresentadora do programa da SIC Radical "Curto Circuito". Com estudos superiores na área da representação, é na Psicologia Clínica que aposta para complementar a sua formação. Recentemente "saiu do armário", expressão recorrente para designar a assunção da homossexualidade. Numa atitude pioneira, fê-lo publicamente, o que seria inimaginável há 34 anos atrás.


(Entrevista por Elsa Pereira)

Vinda das aulas, Solange chega um pouco atrasada para a entrevista. O local de encontro era um dos estúdios da Valentim de Carvalho, onde grava "Curto Circuito". Qual não é o seu espanto, quando, ao irromper pela recepção, tem à espera um ramo de orquídeas, que se revelam flores misteriosas o cartão está em branco.

JN |O que mudou na sua vida depois de se assumir como homossexual numa revista?

Solange F.|No meu dia-a-dia, nada. A única coisa que noto é o ataque dos média, têm-me telefonado para combinar entrevistas e voltar a falar no assunto. Tenho recebido muitos e-mails de apoio.

Sendo uma atitude pioneira em Portugal, o impacto foi o esperado?

Nunca pensei muito no facto de ser a primeira pessoa... E no meu entender não é preciso glorificar tanto isto. Cada um diz aquilo que quer sendo feliz de acordo com aquilo que sente. Não quer dizer que as pessoas tenham todas de se assumir. Mas não pensei muito nisto pois sou um pouco impulsiva, quando vem a parte emocional é muito difícil pôr o racional a agir ao mesmo tempo. Não pensei que daqui resultasse um "boom".

Sendo a sua orientação sexual um assunto da sua esfera íntima, o que a motivou a torná-lo público?

Se eu não fosse conhecida, isto não tinha impacto nenhum. Mas, represento de certa forma a SIC e podia fazer alguma coisa para ajudar. Portanto, aproveitando a visibilidade, tentar mobilizar, para que mais não seja, se falar disto à mesa. Conheço quem não se assume por depender monetariamente dos pais, o que é doloroso. Se isto passar a ser tema de conversa, começa a tornar-se banal, até ao dia em que não é preciso falar-se sobre o assunto.

O facto de se estar a formar em Psicologia Clínica contribuiu para se sentir mais segura desta decisão?

Só se foi de modo inconsciente. Falei porque foi meu desejo, mas não quero ser encarada como uma mártir. No entanto, se puder ajudar a malta mais jovem que assiste ao programa e que me tem como uma referência, se aproveitarem o balanço para serem felizes e se organizarem intelectual e emocionalmente, tanto melhor. Não é uma escolha, não escolhi gostar de mulheres. Nesse caso, na sociedade em que vivemos que discrimina as mulheres até preferia ser homem. É uma orientação sexual. Ninguém tem de ser julgado por amar.

Considera que ainda vivemos numa sociedade conservadora?

Sim, embora me pareça que hoje as coisas estão mais fáceis. Mas basta ser mulher para sofrer discriminação seja nos ordenados, na subida nas empresas. E não se percebe, pois as mulheres são as que mais tiram cursos superiores. Por outro lado, em relação à homossexualidade feminina, é muito mais fácil duas raparigas irem de mãos dadas na rua e serem conotadas como amigas, só isso anula logo a sexualidade da mulher. Também é uma questão geracional. Mas o certo é que ainda somos apontados, quando se trata de uma questão de amor. Insultar alguém chamando-lhe de gay é tão ridículo como dizer que alguém é vegetariano.

Foi apoiada no meio televisivo?

Sim. No estúdio, toda a gente sabia sem eu ter de dizer nada, mas nunca ninguém me veio perguntar directamente. Foi normal, já estavam à espera, deram-me apoio, da parte da SIC Radical também, "parabenizaram-me" pela coragem. Não tive críticas negativas.

Pretende tornar-se uma espécie de embaixadora desta causa?

Não sei. Isso comportaria um peso grande. No entanto, estarei disponível para fazer com que se dê atenção a uma minoria, que existe, que paga impostos como toda a gente e que não tem os mesmos direitos.

Afirmou já que gostaria de estar à frente de um formato dirigido à comunidade gay.

Ainda não está assente, mas também não sei se mais alguém teria coragem de avançar com isto com receio de ficar rotulada. A ideia é que não fosse um programa exclusivamente gay, mas que fosse assumidamente gay a nível de entrevistas, de marcas, de música, pois há uma grande tendência a consumirem-se determinados produtos na comunidade gay. Gostava que fosse um espaço onde se tratassem as coisas pelos nomes. Sem preconceitos. Onde se falasse em sexo, juntando psicologia, e onde houvesse um pró e um contra. Tenho de escrever a proposta.

Um programa só para gays não promove a discriminação?

Isso é ridículo, é como dizer que se luta pela paz. Guerra é guerra. Ou é uma coisa ou é outra. O conceito de os gays promoverem a discriminação é absurdo.

[comentários PortugalGay.PT: 1. Porque não se faz a mesma pergunta sobre programas sobre cristãos? 2. O programa proposto fala sobre gays... não é *para* gays... há uma diferença. ]

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