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Quinta-feira, 19 Abril 2007 12:27

PORTUGAL
Judiciária prende skins



Uma operação desencadeada ontem pela PJ, com buscas em residências de Lisboa, Odivelas, Margem Sul, Porto e Braga, deteve 30 militantes de extrema-direita – a maioria cabeças rapadas, alguns ligados a claques. do Benfica e Sporting. São suspeitos de posse de armas ilegais e discriminação racial


Uma brigada da Polícia Judiciária invadiu ontem à tarde a sede do Partido Nacional Renovador (PNR), de extrema-direita, no momento em que o CM entrevistava o líder da organização, José Pinto Coelho. A rusga levada a cabo pela PJ, no âmbito de uma gigantesca operação de buscas, que envolveu uma centena de inspectores, em mais 60 locais de Lisboa, Odivelas, Margem Sul, Porto e Braga, visava o tráfico de drogas, posse de armas proibidas e difusão de propaganda racista.

Quando a PJ chegou à sede do PNR, na Rua da Prata, já tinham sido detidos 30 militantes de extrema-direita – a maioria cabeças rapadas (‘skinheads’), alguns ligados a claques do Benfica e do Sporting. Eram 16h30. As rusgas decorriam desde manhã. Resultaram, segundo uma fonte judicial, na apreensão de armas de fogo ilegais, tacos de basebol, soqueiras e diversa propaganda

Os detidos, de acordo com a mesma fonte, foram conduzidos para as instalações da Direcção Central de Combate ao Banditismo (DCCB), o departamento da PJ de combate à criminalidade violenta e concertada. Ontem à noite, à hora do fecho desta edição, os interrogatórios ainda prosseguiam. O Ministério Público terá encontrado matéria para justificar a aplicação da prisão preventiva a pelo menos 10 dos suspeitos. A lei permite que fiquem detidos durante 48 horas, pelo que não é certo que sejam apresentados ao juiz de instrução ainda hoje.

SEDE DO PNR

A operação policial em larga escala ocorreu a apenas três dias da maior concentração de nacionalistas europeus alguma vez organizada em Portugal. Ao contrário do que aconteceu em várias das residências que foram alvo de buscas, os agentes da Judiciária não encontraram materiais proibidos na sede do PNR e não foram feitas detenções.

José Pinto Coelho contestou a entrada dos agentes no edifíco da rua da Prata, argumentando que estes estavam a invadir a sede de um partido político: “Isto é mais uma forma de nos descredibilizar e de emporcalhar o nosso nome”, disse aos agentes. Estes responderam-lhe exibindo um mandado judicial que explicitava que as buscas não tinham como alvo o partido em si, mas antes as suas instalações.

O documento, ao que o CM apurou, semelhante ao que foi usado nas outras buscas, explicava a natureza da operação: “A apreensão de meios de prova relevantes para o crime de detecção de armas de fogo proibidas, tráfico de droga, discriminação racial, ofensas à integridade física qualificada, ameaças, instigação pública a um crime investigado nos autos de inquérito (...) a correr no DIAP de Lisboa. O mandado referia ainda a busca de telemóveis, computadores e outros suportes informáticos, anabolizantes e outros produtos estupefacientes”.

Um dos activistas detido pela Polícia Judiciária foi Mário Machado, antigo líder da organização Frente Nacional, condenado em Julho de 2006 a três anos de prisão com pena suspensa por quatro anos pelos crimes de extorsão, sequestro e posse ilegal de arma. Machado já cumpriu uma pena de quatro anos e três meses de prisão por envolvimento na morte de Alcino Monteiro, espancado no Bairro Alto em 1995.

Em Junho de 2006, Machado foi detido pela PSP por ter exibido uma arma ilegal numa reportagem da RTP. Na altura, o director da PJ criticou a intervenção “precipitada” da PSP, por esta ter arruinado uma investigação com recurso a agentes infiltrados.

INVESTIGAÇÃO DURA HÁ 3 ANOS

Desde 2004 que a PJ, GNR, PSP e Serviço de Informações vigiam a actividade dos skins em Portugal. A detecção de um carro armadilhado em Loures e a apreensão pela PSP de material que indiciava a preparação de ataques contra dirigentes da Opus Gay e da sinagoga de Lisboa foram os primeiros sinais de alarme. Na internet, publicaram fotos e moradas de vários antifascistas, prometendo atacá-los. Chegaram a ter uma skinhouse, em Loures, fechada depois de uma rusga que levou à detenção de 27 cabeças rapadas. A ligação às claques de futebol manteve-se ao longo dos anos.

SAIBA MAIS

5000: Número de militantes que o PNR diz constar das suas fileiras. O partido não revela, no entanto, quantos têm as quotas em dia.

9374 Número de votos conseguidos pelo PNR nas eleições legislativas de 2005, o que representa 0,16 % dos votantes. Em 2003, o partido tinha conseguido 4712 votos (0,09%).

Skinhead é o nome de uma subcultura com origens no Reino Unido, na década de 1960, ligada aos rude boys. Caracteriza-se pelo corte de cabelo muito curto ou rapado, um estilo particular de vestir, o culto da virilidade, da violência, do futebol e do hábito de beber cerveja.

Facções: A partir da década de 1980, há uma fragmentação da cultura skinhead em vários submovimentos: esquerdistas e direitistas, racistas e não-racistas, politizados e apolíticos.

Apolíticos: Esta facção aliena-se deliberadamente das questões ideológicas da cultura skinhead, travando relações com qualquer um dos grupos abaixo.

White Power (poder branco) são defensores da ideologia neonazi ou racialista. São xenófobos e apoiam o nacionalismo branco separatista, onde a gestão política das pessoas brancas seria feita por pessoas também brancas.

SHARP: Abreviação de Skinheads Against Racial Prejudice (skinheads contra o preconceito racial).

RASH: Red and Anarchists Skinheads (skinheads vermelhos e anarquistas) promovem ideologias esquerdistas para combater os white power.

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