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Segunda-feira, 15 Dezembro 2014 18:24

MALAWI
Tiwonge Chimbalanga - uma pequena vitória dos direitos LGBT a nível mundial



Em 2010, Tiwonge Chimbalanga, uma mulher transgénera é presa no Malawi. O seu crime? Estar noiva de um homem. Agora vive no exílio na África do Sul, após ser libertada e perdoada.


“Gays noivos!” era o título do jornal Nation da Malawi, a 18 de dezembro de 2009, em que se via uma fotografia de Tiwonge Chimbalanga e Stephen Monjeza. O casal fez história com uma chinkhoswe (uma cerimónia de noivado), que foi a primeira manifestação pública do que muitos viam como um casal gay no país.

A homossexualidade ainda é ilegal em 38 países Africanos, incluindo o Malawi, e o surgimento de um movimento LGBT já era causa de polémica em países como o Uganda. Caroline Somanje, jornalista do Nation, sabia que tinha um furo quando soube o que estava a acontecer. Dirigiu-se ao Mankhoma Lodge, onde estava a decorrer a cerimónia. Quando chegou lá viu uma multidão enorme, mas as pessoas eram hostis, não estavam a celebrar um noivado, mas sim a satisfazer a sua curiosidade.

Dois dias depois da cerimónia o casal foi preso segundo a acusação “conhecimento carnal contra a ordem natural”, um resquício das antigas leis coloniais britânicas, que nunca tinha sido aplicado contra dois adultos. Foram sentenciados a 14 anos de trabalhos forçados, segundo o juiz era uma sentença para assustar, para que não houvessem mais “palermices do género”.

Durante o julgamento tanto o noivo como o pastor afirmaram ter sido enganados por Chimbalanga, ela ter-lhes-ia dito que tinha nascido como menina mas que tinha sido amaldiçoada quando era criança. Chimbalanga vive na Cidade do Cabo, na África do Sul desde 2010, para onde a Amnistia Internacional a levou depois de ter sido perdoada pelo presidente do Malawi.

Pelos parâmetros da cidade, ela vive bem e é acarinhada pelos vizinhos, que a conhecem como “Aunty”. Diz ter 28 anos, mas provavelmente será uma década mais velha. Sendo bastante alta já se destacava da multidão, mas para além disso também usa os trajes típicos do Malawi, com saias compridas e turbantes.

A campanha internacional que assegurou o seu perdão e a sua mudança para a África do Sul foi um triunfo para o movimento LGBT a nível global, mas para Chimbalanga que de repente se viu no meio de uma luta, não foi uma grande vitória. Apesar das aulas intensivas de inglês, ainda não fala o idioma de forma a poder entrar no mercado de trabalho. Tem o corpo coberto das cicatrizes dos ataques que sofreu desde que foi viver para a Cidade do Cabo.

“A primeira vez que ouvi a palavra gay foi quando a vi ao lado da minha fotografia no jornal. E a primeira vez que conheci alguém LGBT foi quando Gift e Dunker me visitaram na cadeia.” Disse Chimbalanga. Os dois homens, Gift Trapence e Dunker Kamba, fazem parte do Centre for the Development of People (Cedep), uma organização de defesa dos direitos LGBT do Malawi.

Anos mais tarde, Trapence afirmou “Era como se o Malawi estivesse prestes a entrar no fim do mundo. Toda a gente pensava que estávamos a tentar forçar a aprovação do casamento. Tivemos que nos proteger, e a comunidade gay também. Foi muito traumatizante. Tivemos que fechar o nosso escritório.”

Durante o julgamento, os acusados foram sujeitos a exames físicos humilhantes. Chimbalanga, com o traje típico feminino, é vista a afastar quem lhe tenta tocar. A dada altura colapsou e vomitou por causa da malária, e foi obrigada e ficar com o seu próprio vómito e a limpá-lo. Mas nunca desistiu, nem nunca pediu misericórdia. Como era constantemente vítima da sua própria notoriedade, acabou por aceitar a ajuda da Amnistia Internacional e ir para a África do Sul, onde as pessoas LGBT estão protegidas a nível constitucional, e havia inclusivamente uma organização de pessoas transgéneras disposta a ajudar.

Durante os primeiros tempos na África do Sul, Aunty foi agredida por pessoas do Malawi que a reconheciam e achavam que ela era demasiado orgulhosa e que estava a envergonhar o Malawi. E todos os dias há algum tipo de insulto ou problema por causa da presença da Aunty.

Apesar de toda esta situação, Chimbalanga ainda não começou um tratamento de mudança de sexo. Em parte por causa de empecilhos legais e dificuldades de comunicação. Segundo Dunker Kamba, Chimbalanga não tem consciência que, visualmente, não é uma mulher. “Por se sentir tão mulher a nível interior, ela não consegue compreender que não têm o aspeto de uma.”

Toda esta situação pôs Chimbalanga numa posição complicada, uma mulher sem educação, que nasceu num corpo masculino, de uma aldeia isolada no centro de África, transplantada para uma metrópole estrangeira. No entanto, no Malawi, o julgamento e as suas consequências trouxeram bastantes mudanças: o governo declarou que as prisões de pessoas homossexuais iriam parar, o jornal Nation e os seus competidores, tornou-se exemplar na sua forma de abordar o assunto de uma forma informativa e não crítica, devido à excelente campanha de treino dos jornalistas feita pelo Cedep. Mas a comunidade homossexual continua escondida, depois de um breve aparecimento no princípio do milénio. Amanda, uma mulher transgénera, afirma que costumava sair vestida de mulher diz que não o pode fazer agora. Começam a chamar-lhe “Aunty Tiwo” e isso põe-na em perigo.

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