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Segunda-feira, 13 Novembro 2006 12:21

TEATRO
Ricardo Pais assaltado pelas sensações fortes de Joe Orton



"Um autor que é paneleiro e que foi assassinado com nove marteladas na cabeça não pode deixar de ser motivo de sensação. E eu sou muito pelas sensações fortes". É desta forma singular - e directa - que Ricardo Pais, encenador e director do Teatro Nacional S. João, no Porto, explica a escolha do dramaturgo inglês Joe Orton, para a nova produção "O saque". A peça sobe hoje ao palco do S. João, em antestreia, às 21.30 horas. O regresso de Pais, que não encenava desde Fevereiro, quando estreou "D. João", traz um extra: primeiramente, às 21 horas, apresenta no mesmo espaço o livro "Ricardo Pais: actos e variedades", de Paulo Eduardo de Carvalho.


"O saque" - peça em dois actos interpretada por Hugo Torres, Jorge Mota, José Eduardo Silva, Lígia Roque, Paulo Freixinho e Pedro Almendra - é a história de dois amigos que, além de manterem uma relação homossexual, resolvem assaltar um banco e esconder o dinheiro num caixão, onde está o corpo da mãe de um deles. O enredo que daí se desenvolve serve de mote a uma aventura que resvala para o absurdo típico do universo bizarro e irreverente de Joe Orton. O estranho território é ainda habitado por uma enfermeira que teve "sete maridos em menos de uma década", e por um típico detective inglês, caricaturado com o traje da habitual gabardina, bigode e óculos.

Teatro de fantoches

Na história, a violência verbal e o humor altamente controverso fazem deste espectáculo uma comédia mordaz que põe em causa a moral tradicional e os bons costumes.

"Eles são muito divertidos. Os personagens em si são relativamente estereotipados, burlescos, caricaturais, com os seus anseios e desprezos", sublinha Ricardo Pais. Contudo, "apesar de lhes achar imensa graça, não sinto nada por eles. São apenas figuras". E reforça "É efectivamente como se fosse apenas um teatro de fantoches".

Ainda assim, não se pense que esta farsa, escrita em meados dos anos 1960, é feita para causar o efeito gargalhada no final de cada frase. "As construções dos diálogos baseiam-se numa espécie de 'stand-up comedy' à inglesa", sustenta o encenador. Por isso, o autor "é muito a favor de uma tradição de verbalidade burlesca, de coloquialidade muito rápida que passa pela integração das imagens que constroem a frase com uma total irrisão da entoação naturalista".

A questão de, justamente, colocar os actores numa comédia e, no concreto caso, a empertigada comédia britânica de humor negro - género de técnica, ritmos e tempos distanciados do registo cómico português -, foi, aliás, um dos maiores desafios por que passou Ricardo Pais.

"A grande dificuldade está no uso das palavras enquanto armas. Enquanto nós temos uma ideia de humor que surge no final de cada diálogo, para Joe Orton a própria farsa, baseada na corrupção absoluta, é que expõe o humor". E desenvolve "Tivemos, sobretudo, que trabalhar uma diferença técnica. Os ingleses falam muito e de uma forma bastante eloquente. São conhecidos por usar a língua à frente da cara. Já nós somos mais predativos das palavras, mais sensuais". Assim, "este foi um dos exercícios mais duros que tivemos em termos da relação do actor com o texto. Foi um processo de ganhar e de perder", concluiu Pais.

Quanto ao desfecho expectante de "O saque", o encenador é peremptório "Esta é uma peça de vingança sobre o pai de Joe Orton, que o considerava um pequeno e tonto burguês". Por isso, "o final é subtil e bastante cínico".

"O saque" ficará em cena até dia 26, de terça-feira a sábado, às 21.30 horas, e domingo, às 16 horas.

[mais informações em www.portugalgay.pt/teatro/ ]

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