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Quarta-feira, 11 Junho 2003 00:59

PORTUGAL
FSP - Uma Manifestação, Dois Desfiles



A Avenida da Liberdade, em Lisboa, assistiu ontem à tarde a duas manifestações separadas somente por 50 metros.


Agendado estava um desfile de encerramento do Fórum Social Português (FSP). Contudo, o facto de o PCP e de as suas organizações se terem colocado desde cedo na dianteira da marcha, provocou profunda irritação entre os movimentos sociais. O resultado foi uma manifestação no papel e dois cortejos na Avenida, que somaram cerca de três mil pessoas presentes, de acordo com os cálculos da polícia. Os movimentos sociais fizeram questão de marcar "uma fronteira", nas palavras de Boaventura de Sousa Santos, com a massa de comunistas, abrindo uma terra-de-ninguém de cerca de 50 metros. A distância entre os desfiles fez-se também ao nível da aparência de ambas. A marcha dos movimentos foi mais colorida, mais animada e heterogénea do que aquela que a precedia. Arrancou ao ritmo compassado dos "Tocándar", um grupo de percussão de 38 jovens da Marinha Grande. Atrás seguiam as gaitas-de-foles dos galegos da plataforma "Nunca Mais", criada no âmbito do desastre ambiental do navio "Prestige". O grupo ambientalista GAIA também causou impacto: realizou uma "performance" sobre poluição com dez activistas cobertos de argila negra, segurando uma jaula que simbolizava o "mundo frágil". Seguia-se o som metálico do barril de petróleo. A Rede Lilás lançou palavras de ordem contra o aborto - "Julgadas por aborto nunca mais" - e, logo a seguir, o animado movimento LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e "Transgenders") clamou pela separação entre pedofilia e homossexualidade e chegou a zombar o lema da CGTP ("CGTP - unidade sindical") mudando-o para "LGBT - liberdade sexual". A ATTAC, uma das associações responsáveis pela organização do FSP, usou também do humor nas suas palavras de ordem: "Esta merda não tem nível, outro mundo é possível. Esta merda é impossível, outro mundo com mais nível". A cauda da manifestação foi ocupada pelo Bloco de Esquerda, pelo PCTP-MRPP e ainda pela Juventude Socialista, tal como havia sido proposto pelos movimentos sociais. O PS, que chegou a estar presente através dos dirigentes nacionais Ana Gomes, Vieira da Silva e Pedro Adão e Silva, optou por abandonar o desfile ainda antes do seu início. "Face à postura do PCP de querer esmagar os movimentos sociais, o PS decidiu não alinhar nesse jogo", justificou Pedro Adão e Silva. Mais monocromático, graças ao mar de bandeiras vermelhas, o desfile do PCP não divergiu muito dos seus habituais eventos. Ouviram-se as habituais palavras de ordem - "trabalho sim, desemprego não" ou "um outro mundo é possível com o socialismo" -, as canções de Zeca Afonso soaram dos altifalantes instalados em carrinhas. Ainda na rotunda do Marquês de Pombal, os comunistas, que entretanto já cerravam fileiras à cabeça da manifestação, lembraram-se dos movimentos. Propuseram-se a "abrir alas" para deixar passar "representantes" das associações para a abertura do desfile. Contudo, o recuo do PCP não teve quaisquer efeitos. Os dirigentes dos movimentos recusaram uma manifestação em conjunto com o PCP. Para disfarçar, os comunistas colocaram à frente das suas bandeiras a CGTP e, à frente desta, um conjunto de organizações que, no entanto, eram seus satélites: Associações como a Confederação Nacional de Agricultores, a Associação de Inquilinos Lisbonenses, a Confederação Portuguesa das Colectividades Culturais, de Recreio e Desportivas e ainda o Conselho Português Para a Paz e Cooperação. Paulo Vieira, da "Não Te Prives", disse ao PÚBLICO: "Eu só não quero que eles se metam no meio de nós." Helena Pinto, da feminista UMAR, explicou a recusa: "Venham agora as propostas que vierem, elas não são bem-vindas. A proposta que havia a fazer já tinha sido feita antes." E criticou a atitude dos comunistas. "O PCP disse que a sua actuação iria ser discreta. É o que estamos a ver", disse, apontando para as centenas de bandeiras à sua frente. Chegados aos Restauradores, onde os comunistas já esperavam há, pelo menos, meia hora, os movimentos fizeram questão de se manter separados. Desviaram-se da concentração comunista e, depois de lida a declaração da assembleia dos movimentos sociais do FSP, desmobilizaram imediatamente para o Martim Moniz, onde decorria a Festa da Diversidade. O PCP ficou a ver.

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