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Sábado, 10 Setembro 2005 00:59

SANTA SÉ
Igreja Católica deve um pedido de perdão às mulheres



O discurso actual do catolicismo sobre as mulheres é pautado "mais por omissões do que por afirmações danosas", tendo ficado a faltar a inclusão das mulheres nos pedidos de perdão feitos pelo Papa João Paulo II. Teresa Martinho Toldy, professora universitária e teóloga, sintetiza deste modo a relação actual da Igreja com o feminino.


Falando ontem, em Valadares (Gaia), no congresso Deus no Século XXI e o Futuro do Cristianismo, Toldy referiu-se ao discurso da Igreja sobre as mulheres, no passado. Citou Geoffroy de Vendôme (século XI), que maldizia "esse sexo no qual não existe nem temor, nem bondade, nem amizade e que deve ser mais temido quando é amado do que quando é odiado".

Hoje, contrapôs a teóloga, esse discurso é feito mais de "declarações mitigadas do que explícitas" de condenação das mulheres. Autora do livro Deus e a Palavra de Deus nas Teologias Feministas, Toldy diz que esse discurso "frequentemente" transfere "as afirmações negativas sobre as mulheres para as reservas face aos movimentos feministas".

Igreja sem espaço para as mulheres

Na intervenção, sobre A Democracia e o Feminino na Igreja, Toldy admitiu que o tema é "polémico". Porque há quem conteste a associação de "democracia" à experiência da Igreja; e porque há muitas mulheres "que começam a ter dificuldade em associar o feminino à Igreja" por esta não ter "espaço para elas" - mesmo sabendo que são "sobretudo mulheres que sustentam o quotidiano de solidariedade da Igreja".

Teresa Toldy fez um paralelo entre a psicologia social e o documento católico de referência sobre a mulher - a carta Mulieris Dignitatem (A Dignidade da Mulher), publicada pelo Papa João Paulo II em 1998. Para isso, socorreu-se de um estudo de Teun van Dijk que, em 1997, analisava os discursos de parlamentares europeus e norte-americanos sobre imigrantes e minorias étnicas.

Algumas das ideias dos deputados, na impossibilidade de traduzir preconceitos hoje "politicamente incorrectos", inserem-se na "tolerância oficial" dominante, mas não são mais que um "racismo delicado", citou Toldy. Estabelecendo paralelos entre esse discurso e o texto do Papa, a teóloga enunciou algumas estratégias e características do discurso católico sobre as mulheres - que não é fruto de "um colectivo que incluísse mulheres em situação de decisão ou intervenção directa no discurso".

"Se Deus é masculino, o homem é Deus"

Sobre o acesso das mulheres ao ministério ordenado, ou seja, ao sacerdócio, diz a teóloga que se ele acontecer para reproduzir o modelo actual do sacerdócio masculino, então "não vale a pena". Mas este argumento não deve anular a questão. Seria o mesmo que esperar que todas as pessoas aderissem convictamente à democracia para acabar com as ditaduras, comparou.

A Igreja tem mesmo que decidir o que é mais importante, asseverou: se garantir o direito dos crentes à celebração da eucaristia, tomada como o centro da vida cristã - e hoje impossível em tantos sítios, dada a falta de clero - ou, pelo contrário, perpetuar a masculinidade do sacerdócio.

"Se Deus é masculino, então o homem é Deus; se entendermos que ontologicamente Deus é pai, então não há lugar para as mulheres na Igreja", afirmou ainda, em resposta às perguntas feitas por alguns dos mais de 150 participantes. E "para que o cristianismo continue a ser relevante", esse é um dos temas fundamentais a afrontar, considerou.

A teóloga terminou invocando a figura bíblica de Maria Madalena, "metáfora" do modo da Igreja olhar as mulheres: de "apóstola dos apóstolos", como era considerada nos primeiros séculos, Madalena passou a ser, em virtudes de leituras bíblicas deturpadas, uma prostituta que precisa de ser redimida.

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