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Quarta-feira, 10 Agosto 2005 00:59

ALEMANHA
Reveladas novas provas sobre o programa nazi de execução sistemática que matou cerca de 100 mil pessoas



A marca de um lápis encarnado na ficha médica de uma criança indicava o seu destino: morte por envenenamento com injecções de morfina-escopolamina ou por asfixia em câmaras de gás em hospitais e clínicas do III Reich, na Alemanha.


Surgiram recentemente novos detalhes sobre o programa de execução sistemática nazi da clínica Am Spiegelgrund, na Áustria, num documento entregue à imprensa e a promotores da justiça austríacos. O pesquisador do documento, Florian Beierl, anunciou na segunda-feira que relatos descritivos sobre o modus operandi da clínica, feitos pelo dr. Erwin Jekelius, foram encontrados em transcrições dos interrogatórios feitos ao director do hospital pelas autoridades russas.

O documento diz que entre 6 a 10 crianças morriam mensalmente em Spiegelgrund. Com a ajuda e cumplicidade dos médicos e parteiras, o dr. Jekelius forjava prognósticos sobre as causas de morte das crianças para entregar aos seus pais. Na clínica Am Spiegelgrund, em Viena, eliminaram-se 770 crianças entre os 6 meses e os 14 anos e milhares foram expostas a experiências cruéis.

"Apercebi-me da brutalidade do regime quando um dia se me deparou o corpo de um rapaz dentro de um dos carrinhos da comida que transportava o nosso jantar", escreveu Alois Kaufman, um sobrevivente de Spiegelgrund, na sua autobiografia Totenwagen, publicada em 1968. Tinha apenas 9 anos quando, em 1942, foi mandado para a clínica por razões de mau comportamento na escola. O programa de execução sistemática nazi Aktion T4 eliminava indivíduos classificados como indignos de vida, sem valor humano e sem direito de viver um quotidiano considerado desprezível. Seriam classificadas como mortes misericordiosas por Adolf Hitler em Outubro de 1939, durante a turbulência do início da Segunda Guerra Mundial.

Iniciado em 1932 e terminado em 1945 com a queda do regime nazi, o programa de purga genética e racial destinava-se ao extermínio de crianças e adultos com sintomas de deficiências mentais, deformidades físicas ou qualquer outro vestígio que viesse contaminar a pureza da raça ariana.

O programa foi rapidamente expandido na Alemanha e na Áustria, onde questionários eram entregues a todos os hospitais, que tinham que assinalar a presença de pacientes que sofressem de esquizofrenia, epilepsia, sífilis, encefalite e condições neurológicas gerais fora do normal ou não tivessem cidadania ou sangue alemães. Morreram vítimas deste programa cerca de 100 mil pessoas, crianças e adultos de origens africana e cigana e de nacionalidades russa e polaca.

O uso de câmaras de gás nas clínicas serviu como centros de treino para a polícia política, que mais tarde aplicou o seu conhecimento técnico para construir as salas da morte em Auschwitz, Treblinka e outros campos de concentração destinados a exterminar a população judaica na Europa.

Não se sabe se estas novas provas irão ter algum significado legal. Erwin Jekelius morreu em 1952 numa prisão russa, enquanto cumpria uma sentença de 25 anos pela morte de quatro mil civis. Heinreich Gross, um ajudante de Jekelius e perito em métodos eficientes para matar crianças, é o único sobrevivente que pode ser julgado. Porém, Gross já foi a tribunal três vezes e as acusações foram exoneradas - a primeira e segunda vez por questões de ordem técnica legais e em 2000 foi considerado incapaz de ser julgado devido a demência avançada.

As vozes que simbolizam o passado impedem que haja um branqueamento da participação austríaca no extermínio nazi. Testemunhos de sobreviventes como Kaufman e a persistência de pesquisadores em encontrar novos dados sobre este período negro da história europeia não permitem que o passado seja esquecido.

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