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Terça-feira, 10 Maio 2005 00:59

PORTUGAL
Directora do Museu Grão Vasco em Viseu acusada de censura artística



Corpos nus, com frases escritas na pele sobre "a morte e a transcendência", e o contorno de um corpo desenhado no chão com recortes de jornal alusivos à perseguição de homossexuais em Viseu. Foram estas as duas instalações, integradas na programação do Museu Grão Vasco para a Noite dos Museus que a nova directora, Ana Paula Abrantes, questionou. Segundo a própria, queria "uma coisa mais suave, por não conhecer a sociedade de Viseu, a maneira como as pessoas reagem". Em consequência, todas as intervenções para a noite de 14 de Maio foram canceladas.


Maria João Pinto Correia, que assumiu a gestão do Museu desde a saída da anterior directora, Dalila Rodrigues, em Novembro, e havia programado a Noite dos Museus no Grão Vasco, qualifica como "censura" esta atitude da actual directora. "Não se interfere na liberdade artística!", indigna-se Pinto Correia, que confessa ter "abraçado o projecto", que constava de várias instalações em diálogo com as obras do pintor Grão Vasco, e sentir-se posta em causa. "Fiz um convite a artistas contemporâneos, que apresentaram propostas contemporâneas. A ideia é estimular as pessoas, fazê-la pensar. Não se desejam coisas inócuas."

Ana P. Abrantes, licenciada em História de Arte e com um mestrado em pintura maneirista, iniciou funções na direcção a 2 de Maio, tendo transitado para o Grão Vasco das suas anteriores funções de professora numa escola do Ensino Básico em Aveiro. E recusa a acusação de censura "Isso é injusto e falso, nem vou comentar". A programação, diz, foi cancelada na sequência de uma conversa com o produtor externo Luís Mendes, responsável pela obtenção de patrocínios que asseguravam o custo zero da intervenção. "Não recusei nada, fiz sugestões em relação a um pequeno aspecto do que estava previsto. A produção percebeu perfeitamente e foi por proposta deles que o projecto foi adiado".

Uma afirmação que deixa Luís Mendes boaquiaberto. "Isso não foi assim. A directora sugeriu que o corpo dos modelos fosse todo pintado, para não se perceber que estavam nus, e que se trabalhasse a outra instalação de modo a referir-se aos discursos de intolerância em geral, e não só à homofobia. Respondi não ser minha função interferir na parte artística, e que isso estava fora de questão."

A equipa do museu estará, segundo Maria João Pinto Correia, "em estado de choque e profundamente desiludida" com uma situação que porá em causa "a dinâmica" imprimida por Dalila Rodrigues desde a reabertura do museu, há sete anos "Ela queria fazer cair o mofo." Desde Novembro à frente do Museu de Arte Antiga, em Lisboa, Dalila Rodrigues limita-se a reputar de "muito qualificada" a equipa que deixou no Grão Vasco e afirmar o seu desconhecimento das motivações subjacentes ao acto da sua substituta. "Mas tem de haver motivações", frisa.

Motivações sobre as quais o presidente do Instituto Português dos Museus, Manuel Oleiro, que despede a possibilidade de "uma atitude censória", se escusa a tecer considerações. "A entrada em funções de uma nova directora permite e torna natural a revisão da programação". Ou seja, tudo normal.

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