Aos 32 anos, Sónia Fertuzinhos inicia agora o segundo mandato como presidente do Departamento Nacional de Mulheres Socialistas, um cargo para que foi eleita pela segunda vez, estreando-se como a primeira presidente a ser eleita directa e universalmente pelas militantes socialistas. Deputada desde 1995, Sónia Fertuzinhos era já então autarca em Guimarães. Uma jovem dirigente socialista que insiste em que é possível dar visibilidade às mulheres e as questões de género através da luta política do PS.
Público: Entrou em vigor em Espanha, esta semana, o casamento entre homossexuais e entre lésbicas e a adopção por casais do mesmo sexo. Como é que vê a questão em Portugal? O PS tem tradição de agarrar os assuntos ditos "civilizacionais", que são assuntos que ajudam a definir hoje o que é a esquerda e o que é a direita, no mundo ocidental. O que acha que pode ser feito em Portugal nesse domínio?
Sónia Fertuzinhos: Ainda estamos na fase de promover um sério debate sobre essa matéria em Portugal. Essa questão de alguma maneira já foi um bocadinho levantada, quando se discutiu a lei da adopção e havia propostas no sentido de os casais do mesmo sexo adoptarem crianças. Ao contrário da despenalização do aborto, que tem sido sucessivamente debatida, em relação ao direito dos casamento de homossexuais e adopção, esse debate ainda não está feito.
Público: Em Espanha não perderam muito tempo a discutir. Zapatero ganhou as eleições e aprovou a lei.
Sónia Fertuzinhos: Era um compromisso e eleitoral, debateu-o na campanha e as pessoas puderam escolher. Agora, nesta fase, é um debate que importa fazer e isso ficou muito claro, quando se colocou a questão da adopção.
Público: Pensa que o PS devia promover esse debate? Dar o pontapé de saída?
Sónia Fertuzinhos: O PS de alguma forma deu o pontapé de saída, quando foi a discussão das uniões de facto.
Público: É diferente de assumir a defesa do casamento, que mexe com o direito de herança, etc.
Sónia Fertuzinhos: É bastante diferente, mas foi o primeiro debate que houve. O passo seguinte será esse e não vejo por que o PS não possa avançar com esse debate.
Público: Na sua opinião, é a favor ou contra o reconhecimento desses direitos a homossexuais e lésbicas?
Sónia Fertuzinhos: Em relação à adopção, muito sinceramente não tenho ainda a minha posição completamente formada. Em relação ao casamento, julgo que, em princípio, não vejo qualquer tipo de objecção a que homossexuais possam oficializar a sua união.
Público: Mas com o casamento concorda?
Sónia Fertuzinhos: Concordo que, depois de feito esse debate, será possível o casamento entre homossexuais.
[extracto da entrevista]