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Segunda-feira, 8 Maio 2006 18:52

RÚSSIA
Violência obriga homossexuais a se esconderem



Os homossexuais russos estão voltando ao gueto como nos tempos da União Soviética (URSS) por causa de ataques violentos promovidos por grupos ultranacionalistas e das acirradas críticas do clero.


"Estamos nos preparando para a guerra. Nunca tinha sentido tanto medo de sair à rua. É perigoso", declarou à EFE Ed Mishin, de 33 anos e diretor da revista "KVIR" - com uma tiragem de 35 mil exemplares -, a única dirigida à comunidade gay na Rússia.

A convocação para 27 de maio de uma Parada Gay inspirada no desfile do orgulho gay que acontece todos os anos em Berlim detonou um surto de escárnio e perseguição que mantém a comunidade homossexual em alerta.

"Isto nos prejudicou muito. Quando achávamos que vivíamos em um país europeu e civilizado começaram a nos ameaçar com pogroms (agressões cometidas contra minorias na Rússia czarista). Agora, somos o inimigo do povo", ressaltou.

O auge dos ataques contra homossexuais foi o incêndio de 30 de abril no clube "Temática" de Moscou, que realizava o festival cultural "Arco-íris sem Limites". Até hoje, a Polícia não esclareceu as causas, mas Mishin acredita que os "cabeças raspadas" são os responsáveis pelo incidente.

Desde 1º de maio, mais de cem neonazistas, sacerdotes, aposentados e fiéis ortodoxos boicotam os locais onde homossexuais se encontram. "Sodomitas" e "pecadores" são alguns dos gritos proferidos pelos agressores, que jogam pedras, garrafas e ovos sem que os policiais presentes tentem impedi-los.

Em um dos incidentes, a Polícia precisou acomodar em um ônibus dezenas de participantes de uma festa gay, já que os neonazistas bloquearam os acessos ao evento por várias horas.

Os ultranacionalistas prometem manter suas atividades contra os homossexuais e lésbicas durante todo o mês de maio.

A associação que representa os gays da Rússia pretende recorrer ao presidente russo, Vladimir Putin, para que "assuma pessoalmente o controle da investigação". "Putin deve condenar publicamente as ações que incitam a violência contra os representantes das minorias sexuais", declarou um dos ativistas.

A entidade também quer apresentar à Câmara dos Deputados o projeto de um novo artigo do Código Penal. A idéia é estabelecer uma punição para quem cometer crimes homofóbicos, discriminar homossexuais ou incitar o ódio contra esta minoria.

A reação conservadora começou em fevereiro, quando representantes da comunidade gay marcaram o desfile do orgulho gay.

A data foi escolhida porque, em 27 de maio de 1993, quase dois anos e meio após a queda do comunismo, foi revogado o artigo 121 do Código Penal da Rússia que punia com prisão as práticas homossexuais.

O prefeito de Moscou, Yuri Luzhkov, afirmou imediatamente que proibiria o desfile por entender que a grande maioria da população de Moscou rejeitava a iniciativa. As comunidades religiosas ortodoxa, muçulmana e judaica aprovaram a postura do prefeito.

"Se saírem à rua, serão punidos. Todas as pessoas normais o farão, muçulmanos e ortodoxos. As minorias sexuais não têm direitos. A sexualidade alternativa é um crime contra Deus", proclamou o mufti Talgat Tadyuddín.

O religioso ameaçou convocar protestos ainda maiores que os provocados pelo escândalo das caricaturas de Maomé. Outro líder religioso pediu que os homossexuais sejam "apedrejados".

De nada adiantou os organizadores insistirem que a manifestação não seria um desfile carnavalesco, mas um ato de reivindicação pelos direitos dessa comunidade e de protesto contra a discriminação.

Os promotores da Parada Gay, Nikolai Alexéyev e Yevguenia Debriánskaya, estão dispostos a recorrer ao Tribunal Europeu de Direito Humanos de Estrasburgo para defender seu direito à manifestação.

Mishin, que dirige a "KVIR" desde sua fundação, em agosto de 2003, criticou a iniciativa, que, para ele, só conseguirá "aumentar a homofobia na Rússia".

Só em 1993, a homossexualidade deixou de ser considerada uma doença mental pela psiquiatria oficial russa

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