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Segunda-feira, 5 Setembro 2005 00:59

EUA
Fundamentalistas falam da ira de Deus em relação ao Furacão Katrina



Steve Lefemine, activista contra o aborto em Columbia, na Carolina do Sul, estava a olhar para um mapa de satélite, a cores, do furacão Katrina quando algo lhe saltou à vista: a imagem de um feto de oito semanas. "Na minha opinião, Deus julgou Nova Orleães pelo pecado de se derramar sangue de inocentes, por meio do aborto", disse Lefemine, que enviou por e-mail aquele mapa cor de carne para outros activistas de todo o país e colocou uma mensagem na máquina atendedora da sua organização, a Columbia Christians for Life. "A providência castiga os pecados nacionais com calamidades nacionais", diz. "Uma maior justiça divina virá sobre a América se não nos arrependermos do pecado nacional do aborto".


O vento de Alá

Lefemine não é a única pessoa a ver a cólera de Deus na terrível devastação que o Katrina trouxe à Costa do Golfo. Tal como aconteceu com os ataques terroristas do 11 de Setembro de 2001 e com o tsunami asiático do ano passado, o furacão originou muitas explicações e visões apocalípticas de todo o espectro religioso e ideológico. "É quase certo que isto é um vento de tormenta que Alá enviou a este império americano", escreveu uma individualidade kuwaiti, Muhammad Yousef Mlaifi, no diário árabe Al-Siyassa, sob o título "O terrorista Katrina é um dos soldados de Alá".

A Retirada da Faixa de Gaza

Em Israel, o jornalista cristão Stan Goodenough ficou impressionado por esta coincidência: nos últimos dias em que os colonos judeus foram despejados das suas casas na Faixa de Gaza, os americanos foram obrigados a deixar as suas residências em Nova Orleães. "É apenas uma coincidência? Não para os que acreditam no Deus da Bíblia", escreveu numa coluna para o Jerusalem Newswire, na Net. "O que a América está a sentir é o juízo divino para a nação mais responsável por ter colocado em perigo a terra e o povo de Israel".

A Decadência Gay

Em Filadélfia, Michael Marcavage também não julgou tratar-se de coincidência o furacão chegar quando gays e lésbicas de todo o país iram participar em Nova Orleães num festival chamado "South Decadence". "Não nos alegramos com a morte de pessoas inocentes", disse Marcavage, que trabalhou com Clinton na Casa Branca em 1999 e agora dirige a Repent America, uma organização evangélica que pede à nação para deixar de estar revoltada contra Deus. "Cremos que Deus controla o tempo. O dia em que Bourbon Street e o French Quarter foram inundados era o dia em que 125.000 homosexuais iam celebrar o pecado nas ruas", afirmou numa entrevista telefónica.

Todos os Pecados

Os reverendos Jerry Falwell e Pat Robertson, que foram criticados por terem sugerido que os ataques do 11 de Setembro eram o castigo divino pelo aborto, a homosexualidade, o feminismo e a proliferação de grupos liberais, têm estado calados quanto ao significado do furacão. "É muito arriscado atribuir uma intenção divina aos desastres naturais. Só Deus sabe por que é que estas coisas acontecem", considerou Robert Knight, director do Concerned Women for America"s Culture and Family Institute.

Mas o reverendo Alex McFarland, do movimento cristão Focus on the Family, explicou numa entrevista telefónica: "Deus criou um mundo perfeito. Mas os homens introduziram o pecado, a rebelião e a desobediência. E depois de Deus ter julgado o pecado humano com o Dilúvio, surgiram as condições climatéricas que hoje conhecemos". McFarland pensa "ser triste que as pessoas aproveitem a oportunidade para transformarem isto num intrumento político" e culparem o Governo. Seria especulativo considerar que "George W. Bush está a criar o aquecimento global e, consequentemente, o Katrina".

Ateus contestam

Ted Steinberg, professor de História na Case Western Reserve University, em Cleveland, argumentou em 2002, no seu livro Acts of God: The Unnatural History of Natural Disaster in America, que os americanos têm visto muitas vezes a vontade de Deus nos terramotos, inundações e secas cujas consequências têm sido agravadas por um planeamento inadequado. Na sua opinião, como ateu, disse, ao efectuarem obras ao longo do Mississippi e ao drenarem terras pantanosas os sapadores militares e as autoridades locais apressaram o afundamento de Nova Orleães abaixo do nível do mar e destruíram as ilhas que protegiam a Costa do Golfo. "Culpar Deus é lavar daí as mãos", comentou. E essa opinião teve eco nos grupos ambientalistas como os Friends of the Earth, que disseram que a Administração Bush tem alguma responsabilidade, porque "trabalhou incansavelmente para sabotar o acordo internacional sobre a mudança de clima e colocou interesses económicos dos EUA acima da estabilidade climática global".

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