PG O Festival Gay e Lésbico de Lisboa é só para os gays e lésbicas ou para toda a gente?
Sempre para toda a gente. E mais: é um festival que tem que estar reservado
para qualquer das identidades LGBT e, sobre tudo, para a comunidade em geral.
Por exemplo: agora que todo mundo fala em diversidade, até pessoas que
achavam que a luta LGBT era uma luta pelo ghetto, já acham que a "diversidade" é uma solução. Eu
continuo dizendo que a diversidade tem que estar no evento em si e não no
nome.
O que faz a diferença do nosso festival para os outros congéneres é a
abertura do nosso festival para a sociedade em geral.
PG O festival arrancou esta sexta-feira, dia 12. Tinhas a assistência que
querias? Foi uma abertura como esperavas?
As pessoas que eu queria nem consegui ver se estavam lá ou não. Eu entrei
num processo de fadiga em que não me lembrava do nome de pessoas fundamentais. Eu não
consigo lembrar do que falei ou do que não falei. Eu sei que tinha o
vice-presidente do ICAM, que são pessoas que eu conheço e eu nem me lembrava
do nome do José Pedro e da Teresa, coisa horrível! Eu não tive tempo de
falar com o director do Instituto Cervantes, porque tinha que tomar conta
de pormenores pequenos, porque eu não tinha voluntários, e mesmo que
houvesse voluntários...
O grande problema dos voluntários, mesmo esses que são conseguidos à última
hora, é que eles pensam que como o festival começa ás oito da noite ou
ás nove eles começam a trabalhar por volta dessa hora. Não passa pela cabeça de todos que
o trabalho, o falar, a preparação é muito mais complexa.
Na sua pergunta de se eu estou satisfeito com a abertura: não, nem um pouco.
Além de estar cansadíssimo, achar injusto o estado físico em que eu estava,
indecente o facto de não poder "curtir" mesmo nada, tínhamos umas 450 pessoas... num
Fórum Lisboa com capacidade para 700 pessoas. Aqueles lugares vazios você nota,
este ano o melhor prémio que eu gostaria de ter por todo este trabalho era
a casa cheia. No entanto eu saio com a sensação da tarefa compridíssima,
e agora é o momento da comunidade agir. E aqui não é a comunidade LGBT mas a
própria cidade de Lisboa: puseram lá [na CML] quem puseram agora tentem conseguir a
coisa. Façam abaixo assinados, tomem iniciativas, façam qualquer coisa, eu
não vou entrar nessas coisas...
PG Tu pensas que a comunidade hetero se tem afastado do festival devido a
uma evolução política da esquerda para a direita ou por outras razões?
O ponto principal foi o 11 de Setembro. Eu nunca me esqueço, eu estava na conferencia de imprensa
do 5º Festival. Foi um festival que talvez tivesse sido o melhor
festival de sempre: eu tinha realizadores, actores... era um ano de ouro total
e de repente, tudo se perdeu. Era um ano de viragem com todos os convidados
que eu tinha foi um grande azar aquilo tudo ter acontecido naquele preciso momento. Quando aquelas
coisas caíram eu senti que o mundo nunca mais seria o mesmo, e o mundo não é
mais o mesmo... estabeleceu-se um medo e esse medo está ao nível das
diferenças sejam elas qual forem, e o Festival ressentiu-se também com isso.
Entrevista realizada pelo PortugalGay.PT em 13 de Setembro de 2003.