JPR: Quando o mandaram para lá estava, só que a selecção oficial é que mesmo algo especial e uma responsabilidade enorme. E foi a única primeira obra na selecção oficial deste ano. São vinte filmes e há dois filmes portugueses, que é o meu e o filme do Manoel de Oliveira, e por exemplo, só há dois filmes americanos. É impressionante como a cinematografia com tantos filmes como é a americana tem dois filmes e nós temos dois filmes...
Achas que o teu filme é um filme comercial? Que toda a gente vai ao cinema ver?
JPB: Não sei... eu gostava muito que isso acontecesse...
De todo este contexto, como é que tu te inseres no cinema português? És uma revelação? O que pensas sobre isto?
JPR: Eu quero fazer filmes, eu já tinha feito um filme: fiz uma curta metragem, fiz dois documentários e agora fiz uma longa metragem. Eu quero fazer filmes, quero fazer o maior número possível. O que depende do que me deixarem fazer, porque os filmes são sempre subsidiados pelo estado... Eu tenho 33 anos, comecei a fazer filmes aos 30... é difícil dizer como me insiro... eu acho que cada pessoa tem o seu projecto, faz o cinema de uma determinada maneira. Agora há muita gente que faz filmes, o que é fantástico, é óptimo, e também só é possível porque é possível ter dinheiro para fazer filmes, há curtas metragens. Aqui há uns anos não havia concursos não havia nada. Eu acho é que há muitos percursos pessoais, e eu sinto que o meu percurso é pessoal. E é a minha formação, as coisas que me influenciaram. Eu sempre vi muito cinema e ainda vejo... desde os meus 16 anos que eu vejo todos os filmes que passaram na Cinemateca, desde o princípio do cinema até agora, eu vi, muitos, muitos, filmes. E eu acho que aprende-se muito a ver filmes. Passa sempre por uma cinefilia, porque é uma coisa que me dá prazer: ver filmes, e sempre que possível vejo filmes... por isso se calhar os meus filmes tem de reflectir de alguma maneira isso, e os meus gostos... por exemplo uma coisa que eu gosto agora, uma das coisas que me dá mais prazer ver são os filmes do Cronemberg, e há uns tipos de Taiwan e Hong Kong, há um tipo que passaram cá um filme que se chamava "O Rio" de um tipo chamado Tzay Ling Yang que é um tipo de Taiwam, são coisas em que eu sinto alguma proximidade, alguma afinidade. Eu fiz a escola de cinema quando tinha 18, sei lá... e trabalhei nos filmes até aos 30, altura em que achei que devia começar a fazer filmes