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A Comunidade Gay e a Política

Carlos Castro:

Há tantos
políticos homossexuais
neste país.
Imensos...
AS: Já que falamos em armadilhas vamos falar noutro terreno muito armadilhado: a comunidade gay em Portugal. Que avaliação faz, o que você pensa do que se está a passar...

CC: Eu acho que tem havido gente com muita coragem, eu tiro chapeu a várias associações, mesmo a Opus Gay, a Safo... estou a dizer direccionadas para a comunidade. Acho que têm dado a cara têm-se batido pelos problemas que têm acontecido em Portugal. Mas acho que há uma dispersão muito grande das pessoas, quando se fala em comunidade acho que as pessoas deviam estar mais chegadas uma às outras e lutarem pelos seus direitos. E penso que nesta história que ouve no discurso do Papa, que eu não ouvi, não sei bem qual a verdade, qual a mentira, como foi dito. Sei que o Papa fez uma afronta muito grande contra os homossexuais. Que eu estou contra o Papa. Fui sempre uma pessoa contra este Papa, acho que este Papa é um homem insensível, creio que está na demência total, nesta altura, está numa fase que já não devia estar a exercer o seu cargo. Ele é um homem morto, não é um homem com vida, vê-se. É uma imagem terrível, os católicos se o são deveriam ter eles compaixão do Papa, como o Papa disse que deviam ter compaixão dos homossexuais. Eu concordo com aquela questão, que quando vêm as pessoas para a rua, mascaradas, despidas, isso não, esse carnaval não aceito, eu sou completamente contra esse carnaval. Agora, acho que as pessoas, os homossexuais, têm de lutar por todos os seus direitos, por reivindicarem tudo aquilo que lhes é devido, porque eles pagam impostos. Por exemplo: vive com um companheiro este morre, eu conheço montes de casos destes, e as pessoas da família vêm, roubam tudo, levam tudo, como aconteceu recentemente. Engraçado eu estar a fazer esta entrevista, o companheiro da Ruth Briden, era casado e a mulher não falava com ele, odeáva-o há não sei quantos anos, e depois da morte dele, eu sei que essa personagem que desapareceu, e foi à segurança social levantar o subsídio de funeral, que foi pago pelas minhas mãos. E é verdade, isto é que é uma vergonha. Que é preciso gritar, deve-se lutar e não fazer a tal bichisse, mariquisse e as pessoas depois não levam a sério. Eu conheço muita gente que não tem nada a ver com homossexualidade, que aceitam completamente, naturalmente, que isto não é uma doença, é uma opção, as pessoas fazem aquela opção sexual e fazem o que tem a fazer e mais nada. O que não pode haver é esta discriminação muito grande que existe neste país. Aquelas pessoas que dão a cara quantas vezes são discriminadas? E o António sabe perfeitamente disso. Vai uma vez à televisão, e é capaz de haver um estúpido que diga qualquer disparate. E depois o que nos resta fazer? Chegar ao pé dessa pessoa e cortar as pessoa aos bocadinhos? Que é o que eu acho que se devia fazer! Porque a minha posição é esta: eu não admito ser maltratado. Neste momento em Portugal assiste-se a uma vergonha enorme em relação a esta questão da homossexualidade. A classe política ainda não viu bem este assunto, quando há tantos políticos homossexuais neste país. Imensos...

AS: E você sabe quem eles são...

CC: E sei quem eles são, e o António também sabe quem eles são. E realmente, por exemplo, esta questão do Papa. Porque é que a imprensa, isto é que é tão perneciosos. Porque é que não chegaram ao pé de vários políticos e perguntaram: diga-me lá o que pensa de Sua Santidade (como eles dizem), do que ele disse? Não foram perguntar a ninguém da política. Porquê? Porque tiveram medo da resposta. Porque não iam responder concerteza. E isto que está tudo dito! Acho que devia haver uma maior junção das pessoas. As pessoas deviam aproximarem-se mais. Aliás na própria gala dos travestis como há dias estavamos a falar. Devia haver uma maior aproximação de associações inclusivé, com a própria Abraço. Aquilo já é uma coisa tão bonita, tão grandiosa que marca a classe, o mundo gay, que eu acho que todas as associações deviam estar nesta...

AS: Mas você sabe se elas são convidadas?

CC: Não sei porque essa parte não passa por mim. Não faço parte de nenhum lobby...

AS: Falou numa palavra, fala-se muito no Lobby Gay... O que você acha? Acha que existe um lobby gay?

CC: Existe. Não naquelas pessoas que estão a fazer a tal comunhão a tal opção da homossexualidade... mas há realmente um lobby gay: nas revistas, nos jornais, na política, no mundo empresarial, até na Igreja. Eu vou contar uma história engrançada: eu estive há uns anos em Itália, acho que é um dos países mais bonitos da Europa. E estive em Roma numa discoteca, e conheci através de amigos travestis e transsexuais uma discoteca fabulosa em Roma, e conheci um rapaz, que era o Paolo, ele era guarda do Vaticano. Então ele dizia que ele tinha de fugir das saias dos Cardeais, dos Bispos, dos Padres do Vaticano porque andavam sempre a assediá-lo a ele como aos outros. E quem vê na Internet certas histórias escabrosas...

AS: Vamos passa agora para Portugal... e em Portugal há assim alguma história picante que você conheca que nos queira aqui conta?

CC: Sobre homossexualidade?

AS: Sim...

CC: Eu acho que não devo contar. É uma questão de privacidade

AS: Sem falar nomes...

CC: A questão política por exemplo. A questão política: vermos que realmente existem políticos que o são. Eles não tem que admitir que o são, nem o assumir. Mas acho que têm de ter uma palavra para defender os direitos da comunidade. E isso é que é importante.

AS: E isso acontece tanto à esquerda como à direita?

CC: Ah! À esquerda, à direita e ao centro. Eu acho que sim.

AS: O que prova que esta luta é uma luta que atravessa a sociedade portuguesa transversalmente, e que não é uma luta nem de esquerda nem de direita, que é uma luta de direitos humanos que diz respeito a todos.



Esta entrevista foi transmitida no programa Vidas Alternativas da Rádio Voxx (91.6 Lisboa, 90.0 Porto) no dia 19 Julho 2000.
Transcrição autorizada para o site PortugalGay por António Serzedelo.
 
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Carlos Castro

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